12/10/2005 - 7:00
Os entendidos da boa culinária classificam aqueles jantares repletos de pratos refinados, servidos em pequenas porções, de experiência gastronômica. Dessa modalidade, derivam vários estilos como o contemporâneo, a cozinha de autor e a desconstrução, um novo termo da moda para definir uma mescla de ingredientes exóticos e texturas inovadoras como, por exemplo, o creme de ovas de bacalhau com vieiras e pirulito picante. Mas basta uma única noite sentado à mesa, saboreando cada pitada como se fosse a última, para desconstruir todas essas denominações e acrescentar um único adjetivo: sublime. A tendência, entre a turma que aprecia as iguarias mais requintadas e as melhores safras de Baco, é degustar. Para esse público seleto, dono de um paladar exigente, começam a despontar espaços dedicados aos delírios da gula. Os paulistanos From the Galley, no Itaim, e o El Olivo, na Vila Madalena, são lugares que abrigam pequenos grupos e reúnem atendimento exclusivo com uma porção de descontração. Não há cerimônia ou ostentação. A sensação é de estar na casa de um amigo e não em um restaurante sem personalidade.
No From the Galley, um espaço inaugurado no início de outubro, os clientes podem conversar com o chef ou, o cozinheiro, como prefere ser chamado o empresário Neriton Vasconcelos, enquanto apreciam os pratos. Isso porque as iguarias são preparadas em uma bancada diante da mesa para 20 pessoas. Neriton, dono da Pier-1, uma operadora de viagens especializada em cruzeiros de luxo, decidiu montar o lugar depois de tanto cozinhar para amigos. Apaixonado por navios e aficionado pela gastronomia, batizou o espaço de Galley, a expressão em inglês para definir a cozinha das embarcações de cruzeiro. Para dar uma ar mais íntimo ao ambiente, ele decorou o local com gravuras náuticas feitas em nanquim no século 17. No piso superior, onde há uma sala exclusiva para grupos de no máximo seis pessoas, desponta uma área espaço para fumar charutos e narguilé.
O From the Galley só abre as portas para quem reserva com 24 horas de antecedência. ?O preparo dos pratos começa logo de manhã?, diz Neriton. ?Por isso é preciso saber exatamente quantas pessoas virão?. Quem vai não se arrepende. São oito pratos que vão desde uma deliciosa melancia, grelhada a exatos 12º C para não desidratar, com tomate, castanha de caju regado com azeite de limão siciliano e redução de vinagre balsâmico, até um diferente hambúrguer de cordeiro com cuscuz marroquino. ?Desenvolvo pratos simples com uma roupagem diferente?, diz Neriton. Outra mestra em dar uma cara diferente às criações culinárias é a chef Maria Luiza Ctenas, do El Olivo, na Vila Madalena. Discípula de Ferran Adrià, o mago da cozinha catalã, ela comanda um espetáculo gastronômico para poucos. ?Só aceito grupos fechados de no máximo 16 pessoas?, diz ela. O menu com 15 pratos inclui foie gras grelhado com geléia de araçá e tintura de urucum, casquinha com sorvete de salmão e confit de coelho com molho teriyaki acompanhado de mil folhas de maçã e gengibre. ?Os meus clientes não querem ser vistos, gostam de discrição?, diz Maria Luiza. ?Aqui, portanto, é o lugar ideal?.