Em um dos extensos corredores da empresa de tecnologia CSU, em Alphaville, região metropolitana de São Paulo, há uma pequena sala de leitura com três estantes, que deixam em evidência desde enciclopédias a romances policiais. “Meu objetivo é montar uma biblioteca de verdade”, afirma Marcos Ribeiro Leite, presidente da companhia. “As pessoas precisam de um espaço para se desligarem do mundo virtual.” É que, nos últimos dois anos, Leite e os 4.500 funcionários da CSU tiveram pouco tempo para se desconectar. Fundada como processadora de cartões, em 1992, a empresa teve de se reinventar para sobreviver, dando mais atenção a áreas periféricas que estavam diretamente ligadas ao negócio.

É o caso da unidade de telemarketing, chamada de CSU Contact, que representa atualmente 48% do faturamento e 14% do Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Os outros 52% vêm das unidades de meios eletrônicos de pagamento (CardSystem), adquirência (Acquire) e de soluções de marketing direto e digital (MarketSystem). O cenário desafiador se agravou, no fim de 2012, com a saída do HSBC da lista de clientes. Houve impacto direto sobre os números do balanço do ano seguinte, quando o lucro líquido despencou para apenas R$ 179 mil.

“Adequamos os negócios com ajustes de gestão e expandimos unidades como a MarketSystem, que teve um crescimento de 60% em seus volumes”, diz. A mudança foi suficiente para que o lucro líquido saltasse, em 2014, para R$ 11,2 milhões, e a receita bruta aumentasse 12,8%, para R$ 431,1 milhões. A expectativa, segundo fontes de mercado, é que a empresa cresça dois dígitos em 2015. Por trás do otimismo, está o acordo firmado com o banco BMG, que vai migrar os seus 1,1 milhão de cartões para a plataforma de processamento da CSU. Deste total, 500 mil já foram repassados e o restante deverá ser transferido até maio.

Esse volume vai ampliar ainda mais a base de cartões ativos, que cresceu 10,6% de outubro de 2013 até o mesmo mês de 2014. No momento, a CSU conversa com três possíveis clientes interessados em migrar os seus cartões para a sua base. A expectativa é que uma dessas parcerias seja anunciada já nos próximos meses. “Apesar dos novos contratos, a margem Ebitda não voltou à casa dos 30%, comum na época do HSBC”, diz Samuel Torres, analista da Fator Corretora. “A perspectiva de crescimento para o setor de cartões é baixa.” Porém, esse não é o maior risco enfrentado pela companhia.

Para Felipe Silveira, analista da Coinvalores, o pior cenário é não conseguir entregar os resultados almejados, apesar dos investimentos nas novas unidades de negócios. Uma das áreas que mais recebeu atenção nos últimos meses foi a MarketSystem, que engloba a plataforma Opte+, um marketplace que liga varejistas a clientes de empresas. A CSU presta esse serviço, por exemplo, para a Porto Seguro. Funciona assim: todas as vezes que um consumidor usa o cartão fidelidade da seguradora, acumula pontos que podem ser trocados em seu site por eletrodomésticos. Isso só é possível graças à CSU.

Para Celso Sato, presidente da empresa de tecnologia em pagamentos Accesstage, há uma tendência mundial de as processadoras de cartões passarem a agregar valor aos clientes. “Uma das formas é o segmento de fidelização, que cresce de forma exponencial, porque os brasileiros estão aprendendo a usar os benefícios a seu favor”, diz. De fato, o modelo de negócios do Opte+ se mostrou tão promissor que a CSU decidiu se conectar diretamente com o usuário de internet. Para isso, criou um portal no qual consumidores podem fazer compras com o seu cartão de crédito e, assim, acumulam pontos a serem trocados por produtos.

Segundo Leite, a CSU estuda uma parceria com um banco para criar um cartão de crédito próprio. “Eles seriam o emissor e nós, os processadores das transações”, afirma Leite. Para Silveira, da Coinvalores, o projeto ainda possui pouca importância no faturamento global. Já Torres, da Fator, diz que, se por um lado, a CSU não precisa investir em estoques, por outro, tem o desafio de tornar a marca conhecida. Mesmo assim, os prognósticos são positivos – ao menos, para as ações, negociadas a menos de R$ 3. A Coinvalores projeta R$ 4,50, em 12 meses, e a Fator, R$ 4,70.