23/04/2008 - 7:00
PARA VENCER UMA MARATONA, O ATLETA deve ter, além de muita energia e resistência, disciplina. Uma explosão inicial na corrida poderá custar caro ao longo do caminho. Mas, de vez em quando, é preciso acelerar o passo e dar uma arrancada, para se manter na frente. Poucas empresas no mundo conhecem tão bem o assunto como a ASICS, fabricante de tênis japonesa reconhecida como uma das marcas mais adequadas para a prática de running. Ocorre que a companhia encontra-se justamente na fase de dar uma arrancada. A partir de 2009, começará a fabricar no Brasil sua linha de tênis, até agora inteiramente importada. É um passo estratégico relevante para uma empresa global como a ASICS, e revela seu interesse não só pelo mercado nacional, mas pelas oportunidades de todo o continente sul-americano. Esta será, ao menos por enquanto, a única fábrica no continente. Desde 1949, os calçados da ASICS chegam ao País em contéineres e, na avaliação da direção, já é hora de substituir a importação por produção local. ?Já temos no Brasil um gerente de produtos orientando esta fase inicial de fabricação?, diz Yoshihiro Okada, presidente da ASICS no Brasil, em entrevista à DINHEIRO.
Outra motivação vem do comportamento do mercado. Trata-se do pedaço que mais cresce no setor de artigos esportivos, com taxas anuais de 20%. Por ano, são R$ 4 bilhões. Para produzir localmente, a Asics optou pelo conceito mais usual nesse mercado: não vai levantar uma fábrica do zero, com tijolos e cimento, mas contratar uma empresa especializada e utilizar seus serviços com exclusividade. Porém, toda a supervisão técnica virá do outro lado do mundo, no centro de desenvolvimento de produtos da ASICS, em Kobe, no Japão. A segunda importante mudança, confirmada por Okada, é que a ASICS irá, cada vez mais daqui para a frente, entrar no mercado de calçados de estilo, ou seja esportivos e sociais, tênis para se ir ao shopping, por exemplo, em que reinam marcas como Adidas e Nike. A ASICS avalia que superou todos os seus concorrentes no mercado de running. Na última Olimpíada, os vencedores eram atletas patrocinados pela ASICS e os executivos da empresa não esperam novidades para os Jogos de Pequim. Agora, sem abdicar deste setor, querem correr nas novas pistas. Não se deve, porém, esperar da empresa, ao menos neste momento, um anúncio com estardalhaço ou um marketing agressivo contra gigantes como Adidas, Nike e Puma, que dominam nesta área.
R$ 4 BILHÕES é o faturamento anual do mercado de produtos para running no Brasil
A ASICS quer chegar ao novo mercado no ritmo de uma maratona: devagar e sempre. ?Nosso foco é o tênis de corrida, mas vamos atuar de maneira mais abrangente no mercado de calçados esportivos?, confirma Okada. Ele informa que já existem alguns produtos nesta linha social lançados de maneira discreta nos últimos anos. O que não mudará é a estratégia de associar a marca à tecnologia. Nos laboratórios de Kobe, conta-se uma história: assim que um tênis de última geração é lançado, depois de anos de pesquisas e investimentos, imediatamente tem início o trabalho de aperfeiçoamento desta peça, ou seja, começa o desenvolvimento de uma nova geração que irá ?envelhecer? a novidade. ?Portanto, nunca terminamos um produto?, diz Okada, sorridente. Antes mesmo do início da produção no Brasil, já se considera a possibilidade de se fazer pesquisas com atletas locais para ajustar os projetos dos tênis de corrida às temperaturas e características do terreno brasileiro. A empresa recorre à nanotecnologia para criar mecanismos que mantenham equilibrada a temperatura no interior dos tênis. O calor pode provocar bolhas nos corredores. Além disso, um tênis contém mais de 50 componentes. As solas mais sofisticadas têm camadas de gel como amortecedores e camadas com pressões específicas, de acordo com a necessidade de cada parte dos pés. A ASICS desenvolveu supertênis para a maratona de Pequim. Um estudo sobre o percurso da maratona foi realizado e indicou a necessidade de mudanças no projeto. ?Descobrimos que o terreno é mais duro do que a média e que há muitas pedras?, conta Okada. Como se vê, há muito trabalho no centro de desenvolvimento de produtos em Kobe.