12/07/2000 - 7:00
A última quarta-feira foi um dia agitado na sede brasileira da Hewlett Packard, em São Paulo. Na sala de reuniões, o presidente da multinacional Carlos Ribeiro comemorava o título de empresa mais ética entre as indústrias do País, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Ao mesmo tempo, no departamento ao lado, a diretoria de RH tinha um pepino e tanto para resolver. Afastar um funcionário que violou uma das normas mais importantes do código de ética: o respeito aos colegas. O empregado usou o correio eletrônico interno para enviar mensagens pornográficas. Seria punido com a demissão, mas pediu seu desligamento antes. O exemplo mostra que a HP não é uma empresa tão distinta da sua ou das que você conhece. Lá trabalham profissionais que, como qualquer ser humano, cometem erros. A diferença está na forma que esses erros são tratados. ?Existem poucas coisas aqui dentro que não aceitamos negociar?, conta Ribeiro. ?Uma delas é a violação de qualquer norma de ética.?
E não aceitam mesmo. A primeira coisa que um novo funcionário recebe quando começa a trabalhar na HP é um CD-ROM com os padrões de conduta. As regras valem para qualquer situação, seja no relacionamento com os colegas ou nos negócios. No manual, o funcionário fica sabendo, por exemplo, que não pode aceitar presentes dos clientes. No máximo, um almoço ou um item promocional. Também não pode ter qualquer participação (como ações) numa empresa que seja fornecedora da HP. As normas valem para todos, no Brasil ou na sede nos Estados Unidos. Para a professora Cecília Arruda, coordenadora da pesquisa de ética da FGV, essa obsessão pelas regras explica a posição de liderança da HP no estudo. ?Não são imposições e sim formas de fazer bem sem prejudicar ninguém com isso.? A multinacional americana desbancou as 20 maiores empresas do setor industrial no Brasil, analisadas durante quatro meses.
É claro, essa cobrança de comportamento só dá certo porque os funcionários se sentem bem dentro da empresa. Lá, predomina a política de portas abertas. Aliás, nenhum departamento tem portas já para facilitar a integração em todos os níveis. Uma relação de confiança mesmo. E é justamente esse o segundo ponto mais importante nos corredores da HP: a confiança nos profissionais. ?Todos que trabalham aqui são honestos, até que provem ao contrário?, explica o diretor de RH, Jair Pinutti. Nenhum empregado, por exemplo, precisa elevar os valores de notas fiscais para conseguir o reembolso daquele gasto extra durante uma viagem. Todas as despesas até US$ 200 não precisam de autorização para serem reembolsadas. Basta fazer a cobrança por um sistema informatizado e em 24 horas o dinheiro estará na conta corrente. Outro exemplo? Um dos empregados que mais teve promoções na HP é o gerente de operações Kami Saidi, que começou em 94 como estagiário. Ele nasceu no Irã e foi selecionado entre 72 candidatos mesmo com o embargo comercial ao seu país mantido pelos Estados Unidos. Em outras palavras, a HP não misturou questões raciais na escolha de um funcionário. Por via das dúvidas, já dentro da empresa, Saidi se naturalizou brasileiro.
Mas nem pense que o esforço para continuar na linha não chega nas salas da diretoria. O presidente Carlos Ribeiro perdeu a conta de quantas negociações abandonou por não concordar com as regras do jogo. Por muito tempo, a HP não fazia negócio com nenhum órgão do governo. Perdeu dinheiro com isso? Não, garante Ribeiro. ?A postura ética se tornou nosso diferencial?, diz. Em 63 anos de existência, a empresa não teve prejuízo um trimestre sequer. E nem o presidente está livre de seguir as normas. No final do ano passado, Ribeiro devolveu uma passagem para participar de um congresso no Nordeste. Motivo: um fornecedor era o patrocinador. ?O exemplo e a transparência são essenciais para manter o comportamento ético da empresa?, analisa Adalberto Fischmann, professor de planejamento estratégico de empresas da USP.
Essa lição, a diretoria da indústria química Union Carbide também sabe de cor. A multinacional americana ficou em 2º lugar no ranking das mais éticas. ?Nossa receita é fazer o funcionário se sentir parte de uma família?, diz a gerente Vanda Bahcivanji. A empresa está passando por um processo de fusão com a Dow Química. E nada afeta mais a tranqüilidade dos empregados do que a incerteza do futuro. A direção da Union Carbide montou um programa impecável de informações. Todos os profissionais estão participando de seminários para entender a fusão. Eles têm até aula para aprender a fazer um currículo e a organizar as finanças em caso de demissão. ?Não enganamos ninguém e por isso não somos enganados?, afirma Vanda.
Tantas exigências podem parecer coisa de americano demais para dar certo numa corporação brasileira. A OPP Petroquímica mostra que não é bem assim. A empresa, do grupo Odebrecht, ficou em 3º lugar no ranking e é a representante nacional no podium. Realmente, uma multinacional dos Estados Unidos atua diferente de uma indústria brasileira. Na OPP não existe, por exemplo, um código que precisa ser seguido com rigor. ?Não adianta criar regras se quem precisa obedecer não entender o que significa?, diz Álvaro Cunha, presidente da OPP. Lá, a prioridade é o diálogo e o espaço para opiniões. ?Temos uma postura ética e passamos isso no dia-a-dia para nossos funcionários, clientes e fornecedores.? Para Cunha, manter a ética no mercado brasileiro é como sobreviver na selva. ?É um desafio vencer a falta de credibilidade no Exterior, as altas cargas tributárias, o custo do capital e as incertezas do País.? Ele consegue. E, nesse caso, o jeitinho brasileiro não é sinônimo de corrupção.
Mas nem pense que o esforço para continuar na linha não chega nas salas da diretoria. O presidente Carlos Ribeiro perdeu a conta de quantas negociações abandonou por não concordar com as regras do jogo. Por muito tempo, a HP não fazia negócio com nenhum órgão do governo. Perdeu dinheiro com isso? Não, garante Ribeiro. ?A postura ética se tornou nosso diferencial?, diz. Em 63 anos de existência, a empresa não teve prejuízo um trimestre sequer. E nem o presidente está livre de seguir as normas. No final do ano passado, Ribeiro devolveu uma passagem para participar de um congresso no Nordeste. Motivo: um fornecedor era o patrocinador. ?O exemplo e a transparência são essenciais para manter o comportamento ético da empresa?, analisa Adalberto Fischmann, professor de planejamento estratégico de empresas da USP.
Essa lição, a diretoria da indústria química Union Carbide também sabe de cor. A multinacional americana ficou em 2º lugar no ranking das mais éticas. ?Nossa receita é fazer o funcionário se sentir parte de uma família?, diz a gerente Vanda Bahcivanji. A empresa está passando por um processo de fusão com a Dow Química. E nada afeta mais a tranqüilidade dos empregados do que a incerteza do futuro. A direção da Union Carbide montou um programa impecável de informações. Todos os profissionais estão participando de seminários para entender a fusão. Eles têm até aula para aprender a fazer um currículo e a organizar as finanças em caso de demissão. ?Não enganamos ninguém e por isso não somos enganados?, afirma Vanda.
Tantas exigências podem parecer coisa de americano demais para dar certo numa corporação brasileira. A OPP Petroquímica mostra que não é bem assim. A empresa, do grupo Odebrecht, ficou em 3º lugar no ranking e é a representante nacional no podium. Realmente, uma multinacional dos Estados Unidos atua diferente de uma indústria brasileira. Na OPP não existe, por exemplo, um código que precisa ser seguido com rigor. ?Não adianta criar regras se quem precisa obedecer não entender o que significa?, diz Álvaro Cunha, presidente da OPP. Lá, a prioridade é o diálogo e o espaço para opiniões. ?Temos uma postura ética e passamos isso no dia-a-dia para nossos funcionários, clientes e fornecedores.? Para Cunha, manter a ética no mercado brasileiro é como sobreviver na selva. ?É um desafio vencer a falta de credibilidade no Exterior, as altas cargas tributárias, o custo do capital e as incertezas do País.? Ele consegue. E, nesse caso, o jeitinho brasileiro não é sinônimo de corrupção.