Quando o Brasil começou, sua riqueza vinha da terra, propícia para a canade- açúcar, depois o ouro, o café, o algodão. Bastavam a terra e a mão-de-obra escrava. O africano descia do navio negreiro, recebia uma enxada ? que não conhecia ? e, com a força de seus braços, começava a produzir riqueza. Mais tarde, a industrialização exigiu qualificação do trabalhador livre. O nordestino descia em São Paulo apenas sabendo ler e logo aprendia a arte de pedreiro ou um ofício de operário metalúrgico. Bastava ter mãos treinadas para criar riqueza.

Porém, as coisas mudaram nas últimas décadas. Em vez de operários que usam mãos treinadas, a economia exige o operador, que usa os dedos em equipamentos digitais, e que precisa ter recebido formação educacional.

Para ter familiaridade com a operação dos novos equipamentos digitalizados, não basta que o novo trabalhador tenha somente habilidade manual, ele precisa ter um mínimo de conhecimentos de informática, de inglês. Aos poucos, os operários e o proletariado vão cedendo lugar aos operadores, uma nova classe de trabalhadores qualificados, sem os quais a economia não funciona. Mesmo a mão-de-obra mais simples, como os encarregados da limpeza do chão das fábricas, será em breve substituída por máquinas robotizadas, manejadas a distância por operadores altamente especializados.

A educação passou a ser fator determinante do processo produtivo e do sistema de garantia de emprego. Também de distribuição da renda, visto que nem o emprego nem o salário existirão sem qualificação. Hoje, a sociedade brasileira tem uma imensa massa de desempregados, enquanto a economia brasileira tem um acervo enorme de vagas não preenchidas, por falta de operadores qualificados. A economia emperra pela falta de educação de qualidade.

Há um fato ainda mais grave. Mesmo quando produz, a economia não gera mais a riqueza integral, porque o valor dos produtos não é mais a soma dos fatores tradicionais: mão-de-obra, capital, matéria-prima. O fator fundamental na geração de riqueza e do valor dos produtos está no conhecimento que inventa os produtos e os equipamentos que os produzem.

No início da nossa economia, o valor da saca de açúcar dependia do custo dos escravos, do valor da terra, do transporte e da remuneração do pouco capital. Com exceção do transporte em navios estrangeiros, a riqueza ficava aqui. Hoje, um dos componentes fundamentais da formação de valor está no conhecimento, na criação de novos produtos e novos equipamentos.

Quando um brasileiro compra um remédio fabricado no Brasil, a maior parte do valor vai para os cientistas do laboratório que patenteou a fórmula e para os tecnólogos que desenharam os equipamentos automáticos que o produzem. Em um consultório médico, parte substancial da renda vai para os fabricantes que criaram os equipamentos utilizados.

A ciência e a tecnologia que geram valor saem de centros de pesquisa, que têm origem no ensino superior, o qual só terá qualidade se o País tiver educação de qualidade para todos, até o final do ensino médio. Não haverá futuro para a economia que desperdiça o mais importante recurso da modernidade: os cérebros da sua sociedade. Cada criança deixada para trás por falta de educação é um recurso que ficará perdido, emperrando a economia por falta de operadores ou impedindo-a de avançar por falta de capital-conhecimento.

A nova riqueza nacional é produto do acúmulo da educação, e sua distribuição depende da educação de cada pessoa.