Se alguém dissesse, no ano passado, que o empresário Eike Batista estaria com o nome sujo na praça por uma dívida de R$ 840 em uma loja de móveis, quem acreditaria? Praticamente, ninguém. Mas é o que aconteceu, recentemente, quando a fabricante de móveis planejados Treselle, do Rio de Janeiro, protestou o título da dívida e enviou o nome dele para a lista negra do varejo, na Serasa. Claro que ele não está pobre – sua fortuna pessoal é avaliada em R$ 900 milhões –, mas o episódio dá visibilidade à principal mudança na vida de Batista desde que suas empresas perderam o fôlego: o ex-sétimo homem mais rico do mundo no ranking da Forbes tem vivido momentos de uma pessoa comum. A transmutação se reflete em sua rotina. 

 

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O séquito de seguranças caiu de 18 para seis homens, todos os assessores de imprensa foram dispensados, há dívidas de condomínio e Batista fechou o saco de bondades. Patrocínios, doações e apadrinhamentos estão suspensos. A vida, agora, é como ela é – mesmo. Comer sanduíche sempre foi um de seus hábitos. Mas o empresário escolhia lanchonetes do Leblon e dava fantásticas gorjetas. Na semana passada, foi fotografado sozinho, em pé no balcão de uma loja de conveniência de um posto de gasolina, degustando um sanduba pré-preparado. Gastou R$ 20 e deu gorjeta normal. 

 

O sr. X, agora, coleciona títulos de ex: é ex-mantenedor do Museu das Minas e do Metal, de Belo Horizonte, que consumia R$ 150 mil mensais; ex-parceiro da Companhia Estadual de Águas e Esgotos e da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro para despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde investiu R$ 23 milhões; e ex-doador de R$ 20 milhões por ano para o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Ele também é ex-patrocinador do time de vôlei RJX, no qual investia R$ 13 milhões por ano. Um de seus seguranças confidenciou à DINHEIRO que Batista “dorme em três lugares diferentes” quando está no Rio. 

 

“Ele avisa na hora se vai trabalhar no Flamengo, no centro ou na Barra da Tijuca (bairros onde tem escritórios)”, revelou. Ele não comparece mais diariamente no luxuoso Edifício Francisco Serrador e negocia a dívida com o condomínio, atualmente em R$ 2 milhões. As habituais corridas em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas foram suspensas. Segundo um amigo, Eike tem receio de que acionistas minoritários da OGX, que brigam na Justiça contra ele, façam escândalos públicos.“Tem muita gente nervosa, que perdeu tudo nesse golpe”, afirmou o economista carioca Aurélio Val Porto, minoritário da OGX. Na semana passada, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro abriu um inquérito para apurar se houve irregularidades por parte da ANP e da CVM na fiscalização da OGX, petrolífera que era o carro-chefe do grupo e pediu recuperação judicial. 

 

Pessoas próximas supõem que o empresário esteja deprimido. “Não sei da rotina dele. O que posso dizer é que está extremamente abatido”, contou à DINHEIRO um dos advogados que cuidam da recuperação judicial da OGX. “Não tenho visto o Eike. Mas sei que o ânimo dele não está dos melhores”, reforçou outro amigo. Na terça-feira 10, o empresário foi visto na churrascaria Fogo de Chão, em Belo Horizonte, com a família – e não parecia triste. Razões não lhe faltam para isso, porém. Batista foi aconselhado a se desfazer de bens luxuosos. No pacote de cortes, já se foram duas aeronaves — o jatinho Gulfstream G 550 e o helicóptero Agusta Grand — e o avião Legacy 600 foi arrendado para Michel Klein, da Via Varejo. 

 

O maior fiasco foi o navio Spirit of Brazil VII, que Batista alugava para passeios. Primeiro, depois de tentar vender, sem sucesso, decidiu doar para a Marinha, que recusou devido ao custo de manutenção de R$ 300 mil por ano. Acabou entregando para um estaleiro desmontar e vender como sucata. Um símbolo de glamour foi preservado: o iate Pershing, avaliado em cerca de R$ 30 milhões, no qual ele velejou no mês passado, em Angra dos Reis, com a mulher, a advogada Flávia Sampaio, e o terceiro filho, Balder, de cinco meses — a grande alegria nesses tempos de mares revoltos. Procurado pela DINHEIRO, Batista não concedeu entrevista.