04/07/2012 - 21:00
Existe um provérbio chinês que diz: “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.” A julgar pelo desempenho econômico da China nas últimas décadas, o país levou a sério a filosofia de não desperdiçar as oportunidades no campo dos negócios. A relação comercial com o Brasil é uma prova disso. Em 1974, quando os dois países – até então coadjuvantes de pouco brilho na economia mundial – reataram suas relações diplomáticas, o PIB brasileiro era de US$ 334 bilhões, mais do que o dobro dos US$ 160 bilhões chineses.
Não parece a china tradicional: crescimento chinês mudou a cara de suas metrópoles,
como Xangai (abaixo), um dos principais centros financeiros da Ásia.
Naquele ano, as exportações da China, essencialmente agrícola, não passaram de US$ 6 bilhões, enquanto o Brasil vendeu US$ 11 bilhões ao Exterior. Todos esses números revelam que, desde então, o cenário mudou muito. Tanto o mercado brasileiro quanto o chinês ganharam musculatura e relevância no comércio internacional. A China se tornou a segunda nação mais rica do planeta, com um PIB de US$ 7,7 trilhões e reservas internacionais de US$ 3,3 trilhões, metade em títulos do Tesouro dos EUA. Já o Brasil, a sexta maior economia do mundo, com um PIB de US$ 2,6 trilhões, assumiu o papel de principal fornecedor de matérias-primas – agropecuárias e minerais, principalmente – da indústria chinesa.
Tecnologia de ponta: a polêmica Foxconn aproveitou a mão de obra barata chinesa
para produzir produtos de alta tecnologia, como o celular iPhone, da Apple.
“O mundo, e o Brasil, precisam dar graças a Deus que a China existe, e tem crescido de forma robusta, enquanto os países ricos encolhem”, diz o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang. “O aprimoramento dos negócios entre ambos os países é fundamental para a prosperidade dos dois”. Um novo ciclo de fortalecimento das relações Brasil-China está em curso. Nos últimos 15 anos, a indústria chinesa assumiu o papel de locomotiva da produção global também com produtos de tecnologia de ponta. Parte dessa mudança no estereótipo dos artigos chineses se explica por uma razão principal: investimento em pesquisa.
Enquanto a média dos gastos em desenvolvimento de tecnologias é de 3% do faturamento total entre as companhias europeias e americanas, a ZTE, fabricante de celulares e equipamentos de telecomunicações, por exemplo, destina 10% de sua receita e 30% dos funcionários para a criação de novos produtos. “Já trabalhei em companhias europeias, como a sueca Ericsson, além da canadense Nortel, e posso garantir que os chineses nunca investiram tanto em qualidade”, diz Eliandro Ávila, diretor-geral da ZTE no Brasil. O apetite dos chineses por bons negócios mundo afora tem crescido exponencialmente.
Novo parceiro: em 2003, capa da DINHEIRO já mostrava
as oportunidades para empresas brasileiras.
No primeiro trimestre deste ano, a China investiu US$ 21,4 bilhões no Exterior, 118% a mais do que no mesmo período do ano anterior, a despeito da crise internacional. No mercado brasileiro, por meio de 100 empresas chinesas que atualmente estão instaladas por aqui, foram investidos aproximadamente US$ 16 bilhões, acima dos US$ 20 bilhões de 2010. “A China é hoje a sustentação da economia mundial e a garantia de que o Brasil, se souber estreitar relações comercias continuará crescendo e brilhando como uma das maiores potência econômicas do mundo. Pode apostar”, diz Sérgio Habib, presidente da montadora chinesa JAC Motors, que irá inaugurar em 2014 uma fábrica de quase R$ 900 milhões, na cidade baiana de Camaçari.