Quanto vale a marca Pelé? Não existem números fechados, mas segundo um estudo dos ingleses Des Dearlove e Stuart Crainer (autores de várias publicações sobre o poder das grifes), ela renderia negócios da ordem de US$ 1 bilhão ao ano, se fosse bem administrada. Mas Pelé não explorou sequer um terço desse potencial. O nome mais famoso do Brasil, quase sinônimo do País, é usado ?apenas? em campanhas publicitárias. Ah, mas o rei do futebol empresta seu nome e seu prestígio a vários eventos mundiais. Mas existe uma grife Pelé? Não. Uma marca esportiva do Rei? Não. Uma linha de chuteiras, meiões, tênis, bolas, brinquedos, material escolar, óculos? Não. Michael Jordan tem 200 produtos vinculados a seu nome. Tiger Woods, outra centena de artigos com sua assinatura. ?Sem qualquer planejamento a marca Pelé já desfruta de um imenso prestígio. Com uma estrutura profissional esse nome pode se transformar em uma das grifes mais poderosas do Planeta”, diz Marco Parizotto, diretor e herdeiro da construtora Inpar.

É exatamente isso que o empresário pretende fazer. Em sociedade com José Alves Araújo, ex-dono das lojas L’Uommo e amigo de longa data do rei do futebol, ele adquiriu por 20 anos (prorrogáveis por mais 20) os direitos da marca Pelé. Em troca, Pelé terá um percentual sobre as vendas. Parizotto não revela o tal percentual, muito menos os valores da compra da marca. Mas fontes próximas às negociações dão uma pista: ?A marca Muhammad Ali, recentemente vendida, custou US$ 63 milhões. Para o Pelé, pode colocar pelo menos o dobro disso?, diz um especialista do mercado de licenciamentos.

Mas o que levou o rei do futebol, aos 65 anos, a negociar novamente sua marca? O desejo de dar a ela um tratamento profissional. Pelé, craque maior dos gramados, nunca mostrou as mesmas habilidades no campo dos negócios. Seus antigos parceiros comerciais não eram exatamente do ramo, o que fez com que a marca ficasse resumida a algumas peças publicitárias e licenciamentos esporádicos. ?Tinham ouro na mão e não sabiam o que fazer com ele?, diz Parizotto. ?Até hoje eu não entendo porque nunca assinei uma linha de meias ou sapatos sociais?, disse Pelé em entrevista a Dinheiro. ?Tenho os pés mais famosos do mundo e ninguém nunca explorou esse fato?. Parizzoto pretende explorar. E não só os pés do rei, mas o fato de ter nas mãos uma marca universal, sem limite de idade ou classe social. ?Trabalhar a grife Pelé é mais fácil que bater pênalti sem goleiro?, brinca o empresário.

Na semana passada, a Prime já mostrava ao que veio. Uma linha de perfume Pelé era lançada na Europa ao mesmo tempo em que Parizoto e Araújo cuidavam dos últimos detalhes da exposição do rei em Berlim e da noite de autógrafos da autobiografia de Pelé, a ser lançada em Londres, em maio. O perfume, que levou um ano para ser desenvolvido, foi entregue a fabricante francesa Charrabot. A essência é assinada pela compatriota Graffi, que trabalha com as maiores grifes de perfume da França. ?Estou viajando muito mas já soube que o lançamento do Perfume foi um sucesso, comenta Pelé. O produto custará 50 euros e será vendido na Europa, Oriente Médio e Brasil. ?A expectativa é comercializar 500 mil frascos neste e no próximo ano?, diz Parizotto.

Em Berlim, já está tudo pronto para a exposição de Pelé na estação de metrô U3, que ainda nem foi inaugurada. Em parceria com a grife esportiva Puma, os sócios investiram 2,5 milhões de euros na Pelé Station, como foi batizada a mostra. A exposição vai exibir os principais momentos da carreira do Pelé durante a Copa do Mundo de 2006. Após o torneio, o evento vai viajar o planeta. Começa pela China e termina na África do Sul, em 2010, ano em que o país sedia a Copa do Mundo.

Nos Estados Unidos, a idéia é explorar o bilionário mercado de produtos infantis. Uma pesquisa feita pela Soccer League (a liga de futebol nos EUA) revela que o esporte mais praticado na faixa dos seis aos 17 anos é o futebol ? o nosso, não o americano. ?Há uma infinidade de produtos que podem ser destinados a esse público. Desde material escolar e brinquedos até equipamentos esportivos. Isso sem contar as possibilidades de conquistar o mercado latino nos EUA?, avisa Paulo Roberto Ferreira, um ex-diretor de licenciamento da Disney convocado para ser o diretor executivo da Prime. Na Ásia, a febre do futebol entre os jovens também pode impulsionar a criação de uma linha esportiva do rei. ?Há alguns anos eu fui procurado por uma marca japonesa e duas coreanas, interessadas em produzir roupas esportivas com a marca Pelé. Quem sabe não retomamos esses contatos?, diz o próprio Pelé. No Brasil, também existem planos de criar uma grife esportiva assinada pelo eterno craque. ? O objetivo é que em 10 anos a marca Pelé esteja entre as cinco maiores grifes de produtos esportivos do mundo?, conta Ferreira.

Há um mundo de possibilidades comerciais com chancela do rei. A Prime fez pesquisas durante um ano para mapear diferentes linhas de atuação e o resultado desse estudo pode ser visto em um gráfico, uma espécie de Galáxia-Pelé, onde vários setores orbitam em torno do atleta do século (leia quadro), de conteúdo para celular até o mercado imobiliário. ?A empresa tem apenas que tomar cuidado para não trabalhar em setores muito distantes da marca, sob pena de generalizar a grife e esvaziar a força de Pelé em seu segmento mais forte, o mercado esportivo?, alerta Susan Betts, diretora da estratégia da consultoria FutureBrand. A Prime já firmou parcerias no mundo todo para cuidar de seus interesses. Existem duas representantes na Europa, uma para os países Nórdicos, outra para os EUA e uma quarta no Japão.

Há apenas três negócios que estão fora do universo Prime: o café Pelé, cujos direitos para Leste Europeu, Rússia e Brasil estão nas mãos da Cacique; As Academias Pelé Club, pertencente a um pool de investidores e o site Pelé Net, da Uol. ?Mas nada impede de fazermos parcerias com esses empresários?, afirma Parizoto. Já está em estudo, por exemplo, a criação de uma rede de cafeterias do Pelé, uma espécie de Starbucks com temática esportiva. ?A Cacique poderia participar desse empreendimento, por que não??, conclui Parizotto. De acordo com o diretor executivo Ferreira, até o final deste ano a Prime deverá exibir um faturamento de US$ 30 milhões. ?Em 2007, devemos saltar para os US$ 100 milhões. Vamos criar a maior marca brasileira de produtos de consumo?, promete Ferreira.