Na pequena cidade de Crewe, a pouco mais de 150 quilômetros a noroeste da vibrante Londres, está localizada a fábrica da Bentley, montadora de luxo escolhida oficialmente para brilhar na garagem da família real britânica. É lá, no típico município inglês de 80 mil habitantes, que os artesãos Noel Thompson e Paul Fisher passam a maior parte dos seus dias, costurando e colando com a máxima perfeição os detalhes mais imperceptíveis dos poucos mais de dez mil veículos produzidos por ano pela marca. É lá também de onde partiram alguns exemplares rumo a São Paulo, para o lançamento do sedã Flying Spur no mercado brasileiro. 

 

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Visão de mercado: o francês Christophe Georges, presidente da marca para as Américas,

vê o mercado nacional como uma aposta para o futuro do setor de luxo

 

Desde a terça-feira 18, a obra-prima da Bentley está disponível ao consumidor local a partir de R$ 1,49 milhão. Não é à toa que Christophe Georges, presidente da Bentley para as Américas, fez questão da presença de seus mestres do artesanato durante o evento. ?É um carro caro? Claro que é?, afirma o executivo, proprietário de um Continental Super­sport. ?Mas quando você vai à fábrica e vê o trabalho deles, você entende por que custa o que custa.? Thompson, há 45 anos na Bentley, e Fisher, há dez, mostraram com exclusividade à DINHEIRO os detalhes da confecção de volantes de couro e as peças finalizadas com madeira, como a bandeja para champanhe e o cinzeiro.

 

Os detalhes do volante, por exemplo, demoram cerca de cinco horas para ficar prontos. ?É tudo costurado à mão e uso até um garfo para conseguir os pontos com a precisão e o charme de que preciso?, diz Thompson. Já a preparação dos itens revestidos de madeira consome quase três semanas. Orgulhosos do trabalho que desenvolvem, os artesãos relatam que há poucos robôs no processo de montagem, em comparação com os quatro mil funcionários responsáveis pelo trabalho que faz jus à fama da Bentley, que tem um faturamento anual de ? 1,5 bilhão. ?Os robôs ainda não são capazes de fazer o que nós fazemos?, aposta. 

 

?As pessoas sabem disso e, por isso, recebemos visitas de consumidores quase diariamente, interessados em saber como funciona o nosso dia a dia.? Mas não foi apenas a estética apurada que fez com que a empresa crescesse 19% em vendas no ano passado. A tecnologia também impressiona, como a velocidade máxima de 331 km/h, Wi-Fi e até poltronas massageadoras nos itens de personalização ? que fazem com que o Flying Spur acabe tendo um preço final de R$ 1,9 milhão. ?Geralmente, quando um carro é muito confortável, não é tão veloz e vice-versa?, afirma Georges. ?Esse é o diferencial desse carro e da marca: a aliança entre o melhor dos mundos do automobilismo.? 

 

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Nos mínimos detalhes: o inglês Paul Fisher, há dez anos na companhia,

é o responsável pelo acabamento em madeira na fábrica, em Crewe

 

A meta, segundo Georges, é vender 15 mil unidades de seus refinados carros até 2018. Coincidência ou não, a alemã Volkswagen, dona da montadora, planeja conquistar a liderança do mercado automobilístico mundial em vendas até 2018, passando à frente da GM e da Toyota. ?A estratégia da Bentley é abocanhar um pedaço ainda maior do setor de luxo?, explica Georges. Para o professor de estratégias de marketing da ESPM George Rossi o melhor cenário para as montadoras de luxo é mesmo fazer parte de gigantes do setor, como é o caso da Bentley com a Volkswagen, e a Ferrari com a Fiat. ?Se fosse uma companhia focada apenas no luxo, seria mais arriscado para a Bentley?, afirma o especialista. 

 

?Mas, ao fazer parte da Volkswagen, que atua também em segmentos populares, permite que haja escalas para trabalhar e sustentar o investimento em novas tecnologias.? O modelo SUV da marca, que deve ser lançado apenas em 2016, é uma das apostas da Bentley para acelerar seus números no País. ?Os brasileiros gostam muito desse modelo de carro e acho que será um sucesso por aqui?, diz o presidente da Bentley. Das cinco mil unidades que a empresa espera comercializar a mais nos próximos quatro anos pelo mundo, três mil devem ser do aguardado utilitário. A expansão promovida pela Bentley também vale para outros setores, como relojoaria, bolsas e até móveis. 

 

?Fazemos carros, mas, acima de tudo, somos uma marca de luxo e isso nos dá margem para apostar em outros mercados do setor.? Apesar do otimismo em relação ao Brasil, a operação nacional ainda não está no foco da companhia, com os Estados Unidos, com 3,1 mil carros comercializados em 2013, como mercado principal, seguidos por China, com pouco mais de dois mil automóveis, Oriente Médio e Europa. No ano passado, no País, foram vendidos somente 16 unidades, um aumento percentualmente considerável se comparado com os oito carros de 2012, mas irrisório em volume. Ainda assim, o Brasil é o único representante da América do Sul que receberá, em breve, uma concessionária da montadora britânica. ?Pode parecer pouca coisa, mas a gente confia que o Brasil é o país do futuro?, ressalta o executivo.

 

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