DINHEIRO ? A recente decisão da Anatel, de suspender temporariamente a venda de chips, causou prejuízo à Oi?

FRANCISCO VALIM ? Do ponto de vista financeiro, não tivemos perdas que pudessem causar impacto em nosso balanço. Assim como as demais empresas do setor, nós pactuamos um plano de melhoria da telefonia móvel com a Anatel, que está sendo cumprido por nós. Melhorar os serviços, de forma geral, é uma busca constante das empresas que atuam no setor.

 

DINHEIRO ?A postura da Anatel deixou claro que a agência passaria a ser mais rigorosa. No quesito multas, por exemplo, apenas neste ano foram aplicadas penalidades que somam R$ 1,43 bilhão, das quais a maior fatia contra a Oi. A empresa não cumpre a lei?

VALIM ? Esse debate envolve dois tipos de questões. Um deles é a dosimetria. Eu acredito que existe uma desproporcionalidade no valor das multas e até mesmo na sua aplicação. Um exemplo claro é o de uma tribo indígena de Mato Grosso do Sul. O grupo cresceu e ultrapassou a marca de 300 habitantes. Bem, a lei diz que todas as localidades acima desse contingente populacional têm de contar com serviço celular e ao menos um telefone público. Só que o cacique não permitiu que instalássemos telefone na tribo. Mesmo assim, a Oi foi multada diversas vezes e, hoje, as penalidades somam R$ 2,5 milhões. 

 

DINHEIRO ? A Oi já conseguiu recuperar terreno na telefonia móvel, área na qual está mais atrasada em relação às demais? 

VALIM ? Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que a Oi chegou depois, mas isso não significa que ela esteja atrasada. As pessoas quando comparam a Oi com as demais se esquecem que começamos do zero, ao contrário das três maiores que compraram operações existentes. Desde 2002, construímos uma base de 45 milhões de clientes, sendo que nove milhões estão em São Paulo, mercado no qual entramos há apenas três anos. Sem contar que a Oi é a operadora que mais cresceu em pós-pago, em 2012. Enquanto nossa base de clientes cresceu 2,3 pontos percentuais de participação, as demais ou ficaram estagnadas ou perderam clientes. 

 

DINHEIRO ? O grande ativo da Oi é a telefonia fixa, um nicho que vem perdendo força. No que isso atrapalha o futuro da empresa?

VALIM ? Essa discussão pode ser encarada sob a ótica do copo meio cheio ou meio vazio. Vou usar o primeiro critério. Pense que hoje temos um fluxo de receita de quase 19 milhões de domicílios. Estamos usando essa base de clientes para melhorar nossa rentabilidade, oferecendo pacotes que incluem banda larga e tevê por assinatura. Ao fazer isso estou mantendo ou ampliando o fluxo de caixa atual. É claro que existe um efeito substituição do telefone fixo pelo móvel, mas isso não significa dizer que o telefone fixo irá desaparecer. Isso não aconteceu em nenhum país do mundo. 

 

DINHEIRO ? Quanto da receita da Oi ainda vem da telefonia fixa? 

VALIM ? Somando o mercado residencial e corporativo trata-se de uma fatia de cerca de 60% de nosso negócio. A Oi demorou a perceber que o assinante residencial é um ativo importante e que deveria procurar rentabilizá-lo. No móvel, já passamos a ser o terceiro player (a posição se refere ao critério de receita líquida do serviço de celular). 

 

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Jovens navegam na internet em uma lan house de São Paulo 

 

DINHEIRO ? E como isso foi conseguido?

VALIM ? Nós nos preparamos para esse momento, adotando algumas medidas. Uma delas foi o investimento na regionalização, fazendo com que a empresa deixasse de ser centralizada no Rio de Janeiro e ficasse mais próxima de seus clientes. Para isso, desenvolvemos novos canais de comercialização próprios e terceirizados, incluindo a abertura de lojas, a criação de um sistema de televendas e a nomeação de vendedores de porta em porta. Também atuamos fortemente na melhoria da qualidade do serviço para reduzir o nível de cancelamentos. Essa combinação de fatores é que fez com que tivéssemos um resultado positivo no ano. 

 

DINHEIRO ? O sr. criticou as operadoras que adotam promoções agressivas, como a TIM. A Oi não pretende usar esse expediente para crescer?

VALIM ? Toda promoção agressiva gera uma demanda assombrosamente elevada e não há como gerar retorno em um mercado de pré-pago, como o brasileiro. As pessoas, quando comparam a telefonia brasileira com a europeia, se esquecem de analisar as diferenças entre os mercados. Lá, 40% a 50% dos telefones são pós-pagos, o que garante uma capacidade financeira diferenciada. Aqui no Brasil o modelo de negócio é de mais baixa rentabilidade. 

 

DINHEIRO ? A entrada do 4G antes da maturação do 3G foi criticada pelo setor. Essa decisão do governo mexeu com a estratégia da Oi?

VALIM ? O 3G não vai desaparecer, assim como o serviço de voz fixo também não. O mundo não é da rede, mas sim do aparelho. Quem tem aparelho 3G precisa de um incentivo para migrar para o aparelho 4G. E quem vai fazer isso primeiro é quem necessita transmitir um grande volume de dados ou tem renda disponível. 

 

DINHEIRO ?Mas nós não estamos atrasados em relação à Europa ou aos EUA?

VALIM ? As pessoas normalmente fazem essas comparações usando uma análise mais emocional do que técnica. A meu ver, não existe uma grande distância entre a qualidade dos serviços aqui e lá fora. Acho que ainda existem oportunidades de crescimento, por exemplo, na internet fixa, pois esse nicho foi limitado durante muito tempo, devido à indisponibilidade de renda das famílias para a aquisição de computador. Contudo, mesmo nos EUA, a penetração da banda larga não é total e atinge 80% da população. Aqui, já estamos em 40%.

 

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Orelhão instalado em rua do centro do Rio de Janeiro

 

DINHEIRO ? As empresas em geral têm condições de atender a essa demanda?

VALIM ? Na verdade, nós já damos conta da demanda atual. Não há uma fila de pessoas querendo comprar produtos de telefonia como existiu no tempo da Telebras. As empresas é que estão brigando para atrair clientes. É claro que existem áreas muito remotas do País que dependem de infraestrutura cara para que seja possível a prestação do serviço. E isso quem vai resolver é o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Somos integrantes do plano e já incorporamos mais de duas mil cidades, desde outubro de 2011. Mas nem todo mundo está disposto a pagar qualquer preço pelo serviço. É preciso adequar o serviço à capacidade financeira da população.

 

DINHEIRO ? No que a IPTV (sistema que utiliza protocolo de internet) pode ajudar a Oi?

VALIM ? Esse serviço permitirá que recuperemos alguns clientes perdidos devido à incapacidade de competir com as novas operadoras. Além disso, nos dará a possibilidade de termos uma TV por assinatura diferenciada, porque o serviço será oferecido via fibra ótica, cuja capacidade de transmissão de dados é enorme. 

 

DINHEIRO ? No que esse sistema é melhor que o atual?

VALIM ? Seu principal trunfo é que ele torna irrelevante o conceito de tempo. Ou seja, o cliente terá a possibilidade de assistir ao programa que quiser, na hora que desejar, podendo, inclusive, ver dois programas simultaneamente. Nosso objetivo é atingir 2,5 milhões de domicílios até 2015, começando por Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras grandes cidades. São Paulo não está no topo da lista porque, lá, temos de resolver duas questões primeiro: a falta de infraestrutura e o fato de sermos conhecidos como uma operadora de telefonia celular e não como uma marca de solução completa. 

 

DINHEIRO ? Quanto da verba de investimento de R$ 24 bilhões está sendo usado para novos serviços e tecnologias inovadoras destinadas a atrair novos clientes?

VALIM ? Até 80% dos recursos são para viabilizar a entrada em novos mercados e também para dar suporte aos consumidores que serão incorporados à empresa nesse período.

 

DINHEIRO ? Qual será o perfil da Oi ao final de 2015?

VALIM ? A Oi vai voltar a ocupar seu lugar de direito, que é o posto de maior empresa de telefonia do País. Mas isso não é um fim em si mesmo, pois queremos ser a operadora de telecomunicações preferida dos brasileiros. 

 

DINHEIRO ? Como o sr. recebeu a decisão da agência Moody?s, que rebaixou a nota de avaliação da Oi? 

VALIM ? Confesso que ficamos surpresos quando a Moody?s fez essa revisão em outubro. Até porque seis meses antes eles haviam retificado a nota e ainda indicaram uma perspectiva positiva. O rebaixamento foi um presente que não gostaríamos de ter recebido. 

 

DINHEIRO ? E o que está sendo feito para reverter esse quadro?

VALIM ? A decisão da Moody?s é soberana. Respeitamos, apesar de não concordarmos, porque não houve deterioração do cenário da companhia, em relação a abril. Até porque duas outras agências, a Fitch e a Standard & Poors, mantêm uma avaliação positiva.