31/08/2005 - 7:00
O empresário Marcos de Moraes já nasceu famoso por ser filho do ?Rei da Soja?, Olacyr de Moraes. Sua fama aumentou em 1999, quando ele vendeu o portal o Zip.Net para a Portugal Telecom por incríveis US$ 365 milhões ? foi o maior negócio da história da internet brasileira realizado até hoje. No ano passado, Moraes criou a Sagatiba, marca de cachaça chique que, se não é uma campeã de vendas, ao menos rende boas risadas com sua inspirada campanha publicitária na TV. Mas é só agora que Moraes se envolveu em algo que possa chamar de ?o projeto mais ousado e excitante da minha vida”.
Ele tirou do bolso R$ 30 milhões para criar a Rukha, uma organização não-governamental com um objetivo inicial bem específico: tirar das ruas as crianças que pedem dinheiro nos semáforos das grandes cidades. ?Muitas pessoas me dizem que é arriscado investir tanto em uma ONG. Mas pior é ter oportunidade de ajudar e não fazer nada?, diz o empresário.
A animação de Moraes com a Rukha é visível. Para explicar como funcionará a ONG ele se levanta, empunha canetinhas coloridas e rabisca um esquema em um quadro em branco. Com ar professoral, Moraes inicia seu raciocínio. ?Milhares de crianças estão nas ruas, e a sociedade dá, com a melhor das intenções, dinheiro a elas no farol. Esse dinheiro não é só desperdiçado. Ele está causando o mal?, alerta. A idéia de Moraes é substituir a esmola obtida no sinaleiro por uma quantia que a criança receberá conforme sua dedicação a programas de outras ONGs credenciadas pela Rukha (até agora, já são quinze, de diversas áreas: informática, reforço escolar, esportes). As cem crianças beneficiadas pelo programa receberão um cartão de banco pré-pago (Moraes não quis revelar o nome do banco). A cada vez que elas forem a uma das ONGs para participar das atividades terão pontos computados nesse cartão. Será registrado também seus desempenhos nos programas. ?Se descobrirmos um geniozinho, nós podemos indicá-lo para trabalhar em alguma empresa?, explica Moraes. Outro requisito básico é que a criança freqüente a escola e esteja, definitivamente, longe dos faróis. Se ela atingir a pontuação máxima, ganhará até R$ 250 por mês por até cinco anos (prazo máximo que ela pode permanecer no programa). As ONGs cadastradas também receberão uma ajuda de custo. Para isso, Moraes criou um fundo de R$ 25 milhões. ?Há várias ONGs fazendo, individualmente, belíssimos trabalhos. É um absurdo que não haja conexão entre elas. Quero deflagrar um processo de integração?, diz. ?As ONGs têm uma carência crônica de recursos. Posso oferecer ao terceiro setor minha cultura empresarial. O que vou trazer é organização?.
Mas um dia o dinheiro do fundo vai acabar. Qual a saída? ?Estamos criando uma campanha publicitária de impacto. Queremos que a sociedade veja que doar dinheiro para o fundo é melhor do que dar esmola no farol. E cuidaremos dos recursos com muita transparência, mostrando cada centavo que entra e sai, no site da ONG?, afirma o empresário. A campanha está a cargo da agência F/Nazca Saatchi & Saatchi, a mesma que criou as divertidas propagandas da cachaça Sagatiba, em que o espectador é incitado a descobrir o que a palavra quer dizer. Nomes estranhos, por sinal, tornaram-se a especialidade de Moraes. Rukha quer dizer ?sopro divino? em aramaico. E o programa com as cem crianças deve se chamar ?Agonia?. ?Não adianta colocar um nome de ?Criancinha Feliz? porque o moleque nem vai ouvir?, argumenta.