No final do ano passado, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá (PR), dividiu com seus 16 mil associados R$ 135,4 milhões de ‘sobras’, nome que talvez não faça jus ao que de fato representa: crescimento de 30% em relação a 2020. Mais adequado seria chamar de 14º salário, conforme define o presidente da instituição, Divanir Higino. Como esse pagamento só é feito após a divisão de verbas para capitalização, investimentos e crescimento, acaba sendo um termômetro tanto dos bons resultados do período quanto da relação de confiança entre a cooperativa e os associados.

Um dos pilares do sucesso da Cocamar é o formato de gestão. Seu Conselho de Administração independente é composto por agricultores com formação universitária. “O único integrante fora dessa condição teve auxílio para fazer um curso na Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) que corresponde a uma graduação”, afirmou Higino. É com esse foco na profissionalização que a cooperativa executa planos audaciosos e alcança números tão expressivos, como o investimento de R$ 242 milhões na execução de obras, ampliação e melhorias estruturais em 2021.

Esse aporte permitiu aprimorar o atendimento ao cooperado, expandir a participação de mercado e aumentar o faturamento, que no ano passado chegou a R$ 9,63 bilhões, 37% a mais do que em 2020. O avanço maior a cada ano gerou uma revisão da estimativa de receita para 2025, que passou de R$ 10,3 bilhões para R$ 15 bilhões. A perspectiva é sustentada pelos esforços de diversificação — como a produção de proteína animal de maior valor agregado e os planos de entrar na piscicultura, por exemplo — e de verticalização dos negócios. Nessa estratégia, destaque para o investimento de R$ 45 milhões em uma usina de biodiesel, que vai abrir novas possibilidades, inclusive de exportação.

Esse é um bom caminho, até porque a base das operações da Cocamar está na agricultura, atividade diretamente impactada por efeitos climáticos e fatores mercadológicos que fogem ao controle dos produtores. Como aconteceu recentemente. Além da quebra da safra de milho em 2021 e de problemas com a soja no início deste ano pela estiagem severa no Sul do País, os cooperados ainda se depararam com aumento dos preços de insumos. E é em momentos de crise como esse que o compromisso com os resultados dos associados faz grande diferença. A cooperativa consegue vantagens como ajustar a negociação com fornecedores para antecipar o abastecimento e manter o custo médio de produção em níveis suportáveis.

Os ganhos em eficiência na gestão e na produtividade têm relação direta com o avanço tecnológico, tanto que a Cocamar almeja se tornar referência em agricultura de precisão no Paraná. A digitalização já passa por serviços administrativos, mapeamento das lavouras com drones, conectividade do maquinário e diversos outros pontos. A inovação vem também na adoção de técnicas sustentáveis. Pioneira na utilização da tecnologia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a cooperativa iniciou em 2020 o Projeto Carne Precoce Premium, demanda dos associados pecuaristas para ingressarem no mercado que aceita pagar um preço mais alto pela qualidade do produto. A capacidade de 5 mil toneladas no ano passado já subiu para 20 mil em 2022. E tem potencial para passar de 250 mil.

Os planos são audaciosos, mas com uma história de quase 60 anos de união e sucesso na gestão, pode-se dizer que a Cocamar só está começando.