O segmento de vacinas sempre foi considerado uma espécie de ?patinho feio? da indústria farmacêutica. Em geral, os laboratórios preferem desenvolver drogas contra a obesidade, disfunção erétil ou problemas cardíacos ? capazes de garantir receita anual na faixa de US$ 1 bilhão por ano. Quando se fala em vacinas para doenças tropicais e males que afetam mais fortemente os países emergentes (elefantíase, malária, dengue e febre amarela) então, poucas são as companhias que colocam estes itens como prioridade. A anglo-americana GlaxoSmithKline é uma das honrosas exceções. Dona de um faturamento global de US$ 36 bilhões, a empresa começa a colher os frutos da aposta feita em sua divisão GSK Biologicals, especializada em vacinas. O resultado de um investimento de US$ 1,2 bilhão, nos últimos quatro anos, está chegando ao mercado. A primeira delas é contra o rotavírus, infecção intestinal que causa diarréia e vômito em crianças. São 450 mil óbitos por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, o remédio se encontra em estágio final de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Tem ainda o medicamento contra o câncer de colo do útero (HPV), cuja maior incidência também se dá nas nações emergentes. Por sua vez, os testes da vacina para combater a malária seguem em ritmo acelerado. Mas como ganhar dinheiro com produtos destinados majoritariamente a países pobres? ?Praticamos preços diferenciados de acordo com a região onde atuamos e a capacidade de pagamento de cada tipo de cliente?, disse à DINHEIRO Jean Stéphenne, presidente da GSK Biologicals.

E o Brasil, segundo o executivo, ocupa um lugar de destaque na estratégia desta divisão. A tal ponto que Stéphenne considera viável a possibilidade de transformar a planta de Jacarepaguá (RJ) em plataforma de produção global de algumas vacinas. ?Faz todo sentido a fabricação de medicamento contra a dengue no Brasil, já que boa parte dos casos ocorrem na América Latina?, argumenta. ?O País também poderia abastecer a Ásia?, completa. É esse tema que deve dominar os encontros que o executivo terá com integrantes dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, durante sua passagem por São Paulo e Brasília, a partir de sábado 2, quando desembarca no País. ?Quero saber se existe uma política de incentivos para este tipo de investimento?, adianta. Infra-estrutura não vai faltar. Na subsidiária brasileira da Glaxo já são feitos ensaios e testes clínicos de diversos medicamentos. A GSK Biologicals tem até um acordo de transferência tecnológica com a Fundação Oswaldo Cruz (RJ) para a produção de vacinas sob encomenda.

A força do mercado brasileiro também pode ser medida em números. A GlaxoSmithKline soube tirar partido do programa de imunização adotado pelo governo. Apenas o Ministério da Saúde vai gastar R$ 550 milhões em campanhas de vacinação neste ano, verba 14,5% maior em relação a 2004. De 2001 a 2005, a receita da empresa com estes itens cresceu 17%, em média, ante um avanço de 8% dos seus demais medicamentos. ?Hoje, as vacinas representam 33,8% de nossa receita total?, diz João Domenech, gerente de comunicação da subsidiária da GlaxoSmithKline, sem revelar, contudo, os números absolutos. Neste cenário, a vacina pode ser o antídoto para o laboratório recuperar o terreno perdido com a feroz concorrência dos genéricos, que lhe derrubou da nona para a 150 posição, em quatro anos.