Amalia Sina sabe o que é poder. Teve sob seu comando, no último ano, 2,4 mil funcionários e um faturamento de R$ 1,5 bilhão. Ela não gosta de falar de salário, mas especialistas afirmam que a executiva recebia cerca de R$ 1,3 milhão mensais. Era a única e primeira mulher a ocupar a presidência de uma multinacional do cigarro no País, a Philip Morris. Mesmo assim, pediu demissão. No anúncio de sua saída, pouco mais de um mês atrás, o mercado especulou que a bela descendente de chineses e poloneses enfrentou problemas na companhia americana. Teria encontrado resistências internas ao tentar dar mais agilidade ao grupo, reduzindo o burocrático processo de tomada de decisões. ?Ela bateu de frente com importantes executivos e desde outubro de 2005 sua saída já estava sendo articulada. Só foi anunciada há pouco tempo para não causar furor no mercado?, diz um executivo próximo a Philip Morris. Se for verdade mesmo, Amalia, que entrou em julho de 2005 na fabricante de cigarros, ficou, de fato, três meses no cargo. Nada disso, segundo a própria Amalia, é verdade. ?Saí para me dedicar à minha família”, diz ela, que esta semana lança seu sexto livro: A Outra Face do Poder (editora Saraiva, 168 páginas, R$ 29).

A declaração de Amalia surpreende. Como uma executiva de sucesso, aos 42 anos de idade, que se preparou para assumir cargos importantes, joga para cima carreiras brilhantes em multinacionais e salários milionários? Antes de assumir a presidência da Philip Morris, ela esteve no comando da Walita (pertencente à Philips) e ocupou postos importantes na Nielsen, Roche, Ceval Seara, Gradiente e o laboratório Wyeth-Whitehall. Em algumas delas, nem esquentou cadeira. Não dá para conciliar família e trabalho? ?Aos nove anos de idade, fiquei órfã de pai e mãe. Desde então, tudo que sempre quis era uma família. Agora que consegui, meu marido e meu filho são minha prioridade”, explica.
 

 

Como a sede da Philip Morris fica em Curitiba, Amalia, quando assumiu a presidência, passou a morar em hotéis na capital paranaense de segunda a sexta-feira. Retornava para casa, em São Paulo, nos finais de semana. “Logo nos primeiros sete meses de Philip Morris, tinha certeza que estava infeliz”, confessa. Com a Walita, diz ela, foi igual. Depois de quatro anos na presidência, e após aumentar o mercado da companhia de 10% a 16% ao ano, foi convidada a assumir um cargo mundial, em Seattle (EUA). Não quis. “Tenho meus limites. Quando o trabalho começa a afetar o que mais lutei para conseguir – minha família – não fico.” Novamente a tese de Amalia entra em confronto com os testemunhos de mercado. Um ex-executivo da Philips, que trabalhou diretamente com Amália na Walita, recorda: ?Ela é competente, mas extremamente autoritária e não admite ser contrariada. Seus problemas de relacionamento profissional fizeram com que fosse demitida?.

Pois são exatamente relacionamento profissionais e limites os temas do livro que está lançando, cujo assunto principal é o assédio moral. Ela mesma diz nunca ter sido vítima – ou vitimado alguém – de abuso de poder e humilhação no trabalho. “Isso só acontece se você não deixa claro que existe vida além da profissão”.