07/11/2007 - 8:00
Se hoje os hotéis Hilton possuem agregado à sua marca um certo quê de escândalo, muito se deve à mais polêmica das herdeiras do clã norte-americano, Paris Hilton. A falta de decoro é sua característica mais marcante, e sua última peripécia foi um pequeno séjour na cadeia, por dirigir embriagada. Na semana passada, uma rede de hotéis brasileira pôde sentir, ainda que não na mesma proporção, o gostinho amargo de ter seu nome atrelado aos destemperos de uma jovem herdeira. Trata-se do grupo Othon, fundado por Othon Lynch Bezerra de Mello em 1944, no Rio de Janeiro. A jovem em questão é Nathalie Bandeira Bezerra de Mello, 33 anos, bisneta de Othon, e que foi presa em flagrante no dia 28 ao tentar embarcar para a Holanda no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, com 1,7 kg de cocaína em sua equipagem de mão.
Bem-vestida e portando no RG um dos nomes mais tradicionais do Rio de Janeiro, Nathalie surpreendeu a polícia federal não só pela bagagem ilícita, mas também pela desculpa dada. Apesar de os hotéis Othon terem faturado somente no primeiro semestre deste ano R$ 60 milhões, a herdeira, formada em psicologia, alegou que o salário de R$ 700 que recebia como vendedora de bijuterias não era suficiente, e que com a venda da droga em Amsterdã faturaria 4 mil euros. O pai de Nathalie, Luiz Brito, já falecido, era sobrinho do atual presidente do Conselho Administrativo da rede, Álvaro Bezerra de Mello, e, segundo declarações da empresa, Nathalie não possuía nenhuma ligação profissional com o hotel.
A família Bezerra de Mello, originária de Pernambuco, possui mais de 250 membros, e, com tantas pessoas associadas a um mesmo sobrenome, as probabilidades de escândalos arranharem, mesmo que de leve, a imagem da empresa aumentam na mesma proporção em que a família se multiplica. ?Esse tipo de situação traz a marca para a mídia de maneira não muito favorável. É muito melhor ver a empresa na seção de negócios do que na página policial?, pondera Marcos Machado, especialista em gestão de marcas da Top Brands. Nesse caso, para escapar do transtorno, Machado acredita que uma postura transparente é essencial. ?Se o incidente chegar ao grande público, como aconteceu com o caso do grupo Othon, é interessante por parte da rede esclarecer que a pessoa envolvida não tem relação profissional com a empresa. Ajuda a proteger a marca?, explica. Uma das grandes questões presentes na gestão de uma empresa familiar é que, em algumas ocasiões, os membros da família não têm necessariamente interesse nos negócios, o que torna mais difícil exigir deles uma conduta exemplar. ?Para administrar isso, assim como há a governança corporativa nas empresas, é preciso uma verdadeira governança familiar?, diz Pedro Adachi, sócio-diretor da Societàs Consultoria de Empresas Familiares. Nos dois casos a rede de hotéis Othon parece estar enfrentando problemas. Enquanto Nathalie aguarda pelo processo no presídio feminino Nelson Hungria, em Bangu, o grupo tem outras dores de cabeça. Em apenas alguns dias (entre 22 e 30 de outubro), as ações PN dos hotéis Othon despencaram 31% na Bovespa.