Para quem não está familiarizado com o mundo da moda, o executivo Scott Burger, presidente para as Américas da joalheria dinamarquesa Pandora, parece estar segurando, na foto acima, uma mera pulseira com pingentes. Mas o acessório não é tão simples assim. A peça revolucionou a história da empresa, tornando-a uma das favoritas das mulheres antenadas no mundo da moda. Produzido com pulseira de ouro, prata, couro ou algodão e pingentes variados, o bracelete fez sucesso por permitir a personalização individual e foi adotado até como joia de destaque por estrelas de Hollywood, como a atriz canadense Jessica Paré, famosa por sua participação no seriado Mad Men, a modelo americana Gigi Hadid e a ex-coelhinha da Playboy Jenny McCarthy.

É possível montar braceletes de R$ 500 até mais de R$ 6 mil, dependendo do material escolhido e da quantidade de pingentes utilizados. “Mudamos de patamar com o lançamento do bracelete Pandora”, diz Burger. Fundada em Copenhagen, a capital da Dinamarca, em 1982, a Pandora só alçou voo no mercado internacional na primeira metade da década passada, quando lançou o bracelete que lhe deu fama. Foi então que a marca conquistou o mundo. Hoje, segundo Burger, a joalheria está presente em 80 países, com dez mil pontos de venda, 400 boutiques e uma receita de US$ 1,7 bilhão por ano.

Só no Brasil, onde está presente desde 2009, a Pandora opera 26 lojas e deve crescer para 80 nos próximos dois anos. “As brasileiras são ligadas em moda e estão em uma situação financeira emergente, o que faz do Brasil um destino prioritário para nossos investimentos”, afirma. Para Michel Yves Seiler, professor do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, a empresa acertou no ponto ao apostar na personalização, que cria nos consumidores uma espécie de identificação com a marca. “Isso aliado ao fato de que as mulheres são mais autônomas hoje em dia”, diz o especialista.

“Elas não precisam que alguém dê joia de presente, podem comprar sozinhas.” Entre os principais mercados da Pandora figuram Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá. O Brasil aparece no top 10 da Pandora, em colocação não revelada pela empresa. “É, sem dúvida, o mais importante no contexto da América Latina, seguido pelo México e pelo Panamá”, diz Burger. Juntos, os países das Américas são responsáveis por 45% do faturamento da empresa. Quanto ao Brasil, a estratégia, agora, é ir cada vez mais para o interior do País. “Já estamos presentes nas principais cidades”, diz Burger.

“Agora queremos entrar em novas praças regionais.” Mas de vez em quando têm aparecido algumas pedras no caminho da Pandora. Em 2011, por exemplo, depois de uma fracassada investida no ramo de alta joalheria, a empresa contabilizou uma queda brusca em suas vendas. “Ficamos arrogantes, achando que éramos capazes de vender qualquer coisa aos nossos consumidores, deixando mesmo de ouvi-los”, afirma Burger. “O que eles querem, o que nos fez especial, são as joias de qualidade, porém com preço acessível.” Apesar do tropeço, o empresário brinca que aqueles tempos difíceis ficaram para trás.

E o crescimento dos negócios, atualmente, vai muito bem, obrigado. Para aumentar as vendas, a estratégia agora é investir em anéis e brincos. A linha de relógios, por sua vez, foi descontinuada. “Focamos no que sabemos fazer melhor, o design de joias criativo e com material de qualidade, como uma boa marca dinamarquesa.” O sucesso, naturalmente, acaba inspirando a competição. A paulistana Vivara, com uma rede de mais de 150 lojas nas principais cidades do Brasil, por exemplo, lançou um modelo semelhante ao bracelete famoso da Pandora.

A iniciativa da concorrência não parece atrapalhar os planos da empresa, que aposta no peso e na tradição de sua marca. “É só olhar a qualidade das nossas peças em relação à das outras”, diz Burger. “A gente se destaca.” Outra concorrente que está de olho na disputa pela preferência das mulheres chiques e endinheiradas é a suíça Swarovski, especialista em cristais. No entanto, a despeito da agressividade dos competidores, a empresa dinamarquesa ocupa a segunda posição no ranking das maiores joalherias do mundo em volume de vendas, atrás apenas da francesa Cartier e à frente da americana Tiffany’s.