A MAGNESITA SEMPRE FOI uma jogadora importante no segmento de material refratário, usado na produção de aço, cimento e vidro. Apesar disso, a companhia nunca conseguiu ir além das fronteiras da América do Sul. É nessa região que estão localizados seus maiores clientes, responsáveis por 90% das receitas anuais de R$ 1,2 bilhão. Em um mundo cada vez mais sem fronteiras, o fator geográfico poderia comprometer o futuro da empresa. Ela corria o risco, por exemplo, de ser alijada de acordos globais para suprimento de matéria-prima e prestação de serviços para siderúrgicas, cimenteiras e fabricantes de vidro que operam simultaneamente em vários cantos do planeta. Essa história começou a mudar no domingo 7, com a aquisição da rival alemã LWB, pela qual pagou 657 milhões de euros (algo em torno de R$ 1,6 bilhão). O negócio dará à Magnesita uma escala jamais sonhada em seus 68 anos de existência. Além do Brasil e da Argentina, a companhia passa a ter fábricas nos Estados Unidos, na França, na China e na Alemanha. O novo porte é suficiente para alçá-la da décima para a terceira posição do ranking mundial do segmento (atrás de Vesuvius e a RHI). E, no que depender do apetite dos sócios GP Investments e Gávea Investimentos, o lugar mais alto do pódium deve ser atingido rapidamente. ?Nossa ambição é chegar à liderança global até 2012. E para isso pretendemos partir para novas aquisições?, disse um otimista Ronaldo Iabrudi, presidente da Magnesita, durante conferência com analistas do mercado financeiro na terça-feira 9.

Antes de entrar no olimpo, porém, o executivo e seus subordinados terão de digerir a LWB. Tarefa que não deverá ser das mais fáceis. Isso porque Iabrudi reza pela impiedosa cartilha corporativa do GP, cujo mantra é a obtenção de resultados a qualquer custo. ?Tenho paixão por metas, resultados e meritocracia. Jamais jogo para a torcida?, explica. Ou seja, quem não faz sua parte está fora. E isso vale do chão de fábrica até a presidência. Desde que assumiu a Magnesita, em agosto de 2007, o executivo cortou cerca de 15% dos 7,2 mil funcionários, algo bastante difícil de ser reproduzido lá fora, em função da força dos sindicatos e dos restritivos acordos coletivos. ?O grande desafio da direção da Magnesita será a integração de duas culturas muito diferentes?, avalia a analista Mariana Gonçalves, sócia da corretora Global Equity. Iabrudi sabe disso. Tanto que pretende levar parte de seu alto comando para a pequena Hagen-Halden (Alemanha), cidade onde fica a sede da LWB. ?Vamos passar um pente-fino na empresa antes de elaborar um plano de negócio alinhado com os objetivos globais da Magnesita, que será colocado em prática a partir de janeiro de 2009?, conta o dirigente.

Criada em 1940 pela família mineira Pentagna Guimarães, a Magnesita vive o melhor momento de sua história. Sob a gestão GP-Gávea, a empresa teve seu valor de mercado ampliado em 50%, para R$ 3,13 bilhões. Com a estréia no Novo Mercado da Bovespa, em 2 de abril, tornouse uma estrela do pregão. Agora, alçada ao posto de mais nova multinacional verde-amarela, a Magnesita espera se beneficiar imediatamente da sinergia gerada pela aquisição. O principal ganho se refere ao domínio de matérias-primas, já que a LWB possui a maior reserva de dolomita do planeta. O produto não faz parte do portfólio da Magnesita, cuja força está em sínter e em tijolos refratários feitos de magnesita, extraída de uma pedra rosada hoje altamente valorizada. Isso deverá também facilitar a obtenção do ?sinal verde? por parte dos órgãos que regulam a concorrência. Some-se a isso uma capilarizada estrutura de vendas e produção em mercados maduros (EUA e Europa) e emergentes (Ásia) e tem-se uma companhia em condições de bancar disputas globais.