O País todo já conhece a situação de penúria em que as Forças Armadas brasileiras estão mergulhadas. Soldos aviltantes, equipamentos sucateados, risco de insubordinação ? eis o retrato sem retoques da realidade em que se encontram Marinha, Exército e Aeronáutica. É um retrato exposto em toda sua crueza nos atos públicos organizados por parentes de militares e nas manifestações de descontentamento dos comandantes diante de seu chefe, o ministro da Defesa, José Viegas Filho. Na semana passada, esse processo de humilhação inaugurou uma nova e inimaginável etapa, quando um depósito da Aeronáutica no Rio de Janeiro foi invadido por cinco homens. Renderam os sentinelas, amarraram e espancaram três deles. Outros dois sumiram ? teriam sido seqüestrados pelos bandidos. Bobagem. Segundo um soldado do quartel entrevistado por DINHEIRO, eles haviam se escondido com medo dos assaltantes. A quadrilha saiu do quartel em uma Kombi da Aeronáutica com fuzis, pistolas e munição.

Criou-se assim uma situação estapafúrdia. As Forças Armadas tornaram-se reféns daquilo que deveriam combater: a violência do crime organizado. Junto carregam para o cativeiro a sociedade brasileira e transformam a questão da segurança em um ingrediente cada vez mais encorpado da cesta do Custo Brasil, ombreando
com itens como infra-estrutura e carga tributária. É inacreditável, mas o País tornou-se um refém do crime organizado. O pavor estampado no rosto do soldado na foto acima é a expressão do
medo que tomou conta dos brasileiros.

O que alimenta esse grande seqüestro nacional é a absoluta falta de investimentos na segurança, cuja face mais dramática é a remuneração dos soldados. Qualquer especialista em recursos humanos sabe que talentos são retidos com bons salários e perspectiva de crescimento profissional. Hoje, as Forças Armadas não oferecem nem um nem outro e transformaram-se em centros de formação de pessoal para o crime organizado ou outras corporações.

Em março, 120 cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), onde formam-se os oficiais, fizeram concurso para a Polícia Rodoviária Federal, que oferece salário de R$ 3.765. Caso vá para a rodovia, pode ganhar R$ 6 mil, o equivalente ao salário líquido de
um general. Durante os quatro anos de academia, o cadete recebe ajuda de custo mensal de R$ 330 a R$ 405. Formado, torna-se aspirante a oficial, com salário bruto de R$ 2.835. O diagnóstico é cristalino, mas as autoridades fogem do problema. Nenhuma situação é mais caricata do que a do Rio de Janeiro. Ali, a governadora Rosinha Matheus saiu a público para dizer que não pode se incumbir de
uma das atribuições sagradas do estado: a segurança. O governo federal respondeu que nada poderia fazer. Cedeu dias depois e anunciou o envio de tropas para o Rio. O jogo de empurra-empurra revela vazio de autoridade e coloca mais vitamina no já bem fornido prato em que se alimenta a insegurança.