NA SEMANA PASSADA, O presidente Lula veio a público e criticou as empresas brasileiras que teriam especulado contra o real. Na verdade, ocorreu o contrário. Pressionados pelo real forte, muitos exportadores recorreram aos mercados futuros, apostando que a moeda nacional continuaria valorizada. Foi o caso da Sadia, que perdeu R$ 760 milhões, mas já limpou seus balanços. O problema é que já se estima um volume muito maior de prejuízos não contabilizados ? com o dólar em R$ 2,30, as perdas podem ficar entre R$ 35 bilhões e R$ 50 bilhões. Uma empresa que já assumiu o problema, mas ainda não liquidou as operações, foi a Aracruz Celulose. Suas perdas seriam de R$ 1,9 bilhão com o câmbio a R$ 1,90, mas podem ser maiores ? o problema não só custou a cabeça do diretor financeiro, Isac Zagury, que já foi um dos homens fortes do BNDES, como também congelou a venda da Aracruz para o grupo Votorantim. O número final do prejuízo sairá só no dia 17 de outubro, quando a empresa divulgará seu balanço, mas os analistas estão descontentes com a indefinição. ?O excesso de confiança dos gestores criou posições especulativas?, diz Mario Paiva, da corretora Liquidez.

Além do caso Aracruz, novas surpresas virão a público nas próximas semanas. O BNDES já mapeou 11 empresas, que, juntas, teriam perdido cerca de R$ 9 bilhões com derivativos cambiais. Nessas operações, os exportadores anteciparam a venda de dólares, quase sempre a R$ 1,80, e ficaram descobertos com a disparada da moeda americana. Além disso, como muitos tiveram de montar posições em dólar para tentar liquidar suas operações, acabaram reforçando a tendência de desvalorização do real, o que obrigou o Banco Central a vender reservas. O problema da máxi é que ela também atinge empresas que não especularam, mas têm dívidas em moeda estrangeira. As empresas nacionais têm, em média, 49% de seus passivos desse tipo e a dívida dolarizada do setor corporativo supera US$ 132 bilhões. Entre os setores mais prejudicados estão bancos e seguradoras cuja dívida em dólar ultrapassa US$ 26 bilhões. Em seguida vêm as siderúrgicas e mineradoras, que pagarão mais caro para rolar o passivo.