Em uma reunião na segunda-feira (12), o Conselho de Administração da Petrobras fez o que todos esperavam – mas nem todos desejavam. Chancelou a troca de comando da estatal, dispensando o economista Roberto Castello Branco. O virtual sucessor é o general Joaquim Silva e Luna. Ele foi eleito para o Conselho na segunda-feira, último passo necessário para sua indicação à Presidência. Sua escolha é mais do que garantida. O Conselho também foi renovado e sete dos oito conselheiros foram indicados pelo governo. Isso garante influência zero dos minoritários nas decisões.

A substituição deveu-se à intervenção direta do presidente Jair Bolsonaro, que vinha criticando ferozmente a política de reajustes de preços da estatal. Ao elevar o valor cobrado pela gasolina e, principalmente, pelo óleo diesel nas refinarias, a Petrobras desagradava em cheio os caminhoneiros e os empresários do transporte rodoviário, um dos pilares da base eleitoral de Bolsonaro. Agora, tramitados os devidos trâmites, resta ao investidor refazer os cálculos para saber qual será a resultante das pressões sobre a Petrobras nas cotações dos papéis.

A troca não agradou. Dois números podem resumir a trajetória de Castello Branco. Ao tomar posse, no início de 2019, a estatal valia R$ 316 bilhões na bolsa. No início de 2021, antes de ter o cargo rifado por Bolsonaro, a companhia valia R$ 373 bilhões, aumento de 18%. E isso apesar dos solavancos do mercado de petróleo e da desaceleração do consumo provocada pelas medidas de restrição destinadas a conter a proliferação do coronavírus.

A valorização deveu-se a medidas tomadas pelo ex-presidente. Ele tirou a estatal de atividades menos estratégicas, como a distribuição de gás de cozinha e a revenda da combustível. Também planejou destravar os investimentos privados no refino de petróleo para aliviar esse eterno gargalo na economia nacional, com a venda de ao menos oito refinarias. Tudo isso visando reduzir o endividamento, aumentar a eficiência e concentrar os esforços nas áreas estratégicas de prospecção e extração de petróleo. No entanto, Castello Branco foi demitido por negar-se a segurar os reajustes de preços dos combustíveis. No passado recente, essa prática tentadora para os governos transformou a Petrobras na petrolífera mais endividada do mundo.

REAJUSTES A principal questão são os reajustes. Para o chefe de análise da Inversa, Flavio Conde, a probabilidade de haver mudanças na política de preços da Petrobras é grande. Para ele, o cenário mais provável é que os reajustes nos combustíveis, hoje semanais, passem a ser feitos trimestralmente e sem considerar o dólar – o que geraria uma defasagem e prejuízos para a estatal no período.

Silva e Luna será testado logo na saída. No início de maio expira a isenção de impostos federais sobre o óleo diesel, decidida no início da pandemia. A renúncia fiscal correspondente a cerca de 9,5% no preço final do combustível ao consumidor, ou R$ 0,33 por litro. A volta da cobrança do imposto deve gerar uma pressão para cima nos preços das bombas, e a atuação do novo presidente será acompanhada com lupa pelo mercado. Para não ajudar, na segunda semana de abril, pouco antes da destituição de Castello Branco, Bolsonaro disse ser “inadmissível” um reajuste de 39% nos preços do gás de cozinha.

Até agora, Silva e Luna tem se mantido em um persistente silêncio sobre qual será a política de preços e como vai tratar os desinvestimentos da estatal previstos no plano de negócios que vale de 2021 a 2025. Porém, na avaliação dos analistas da Levante Ideias de Investimentos, ele terá um desafio complexo, cuja solução está em Brasília e não dentro da companhia. Se Luna e Silva promover uma alteração na política de preços da estatal e passar a praticar reajustes inferiores às oscilações do mercado internacional durante um longo período, os prejuízos bilionários poderão voltar a tingir de vermelho os balanços da estatal.