Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – O general da reserva Marco Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, admitiu em depoimento nesta sexta-feira à Polícia Federal que houve “apagão” do sistema de inteligência por falta de informações no dia 8 de janeiro e que não tinha condições de prender “sozinho” invasores que estavam no 3º e 4º pisos do Palácio do Planalto na ocasião, preferindo fazer um “gerenciamento de crise”.

GDias, como é conhecido, foi intimado a depor à PF pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes após ter pedido demissão e ter tido o pedido aceito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira.

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Ele se tornou o primeiro auxiliar direto do petista a cair em seu terceiro mandato presidencial, após a divulgação de imagens que o mostram circulando pelo Palácio do Planalto em meio aos ataques de vândalos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do Poder Executivo em 8 de janeiro.

GERENCIAMENTO

Questionado pelos policiais porque não prendeu os invasores do 3º e 4º andares do Planalto, o ex-ministro respondeu que estava fazendo um “gerenciamento de crise” e que essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança que estavam no 2º piso, tão logo descessem, conforme o protocolo.

“Que o declarante não tinha condições materiais de sozinho efetuar prisão das pessoas ou mais que encontrou no 3° e 4° andar, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado”, ressaltou ele, segundo depoimento transcrito obtido pela Reuters.

O ex-auxiliar de Lula disse que houve um “corte e edição” na gravação que foi divulgada pela imprensa na qual apontaria uma possível proximidade física dele com o major José Eduardo Pereira, que apareceu nas imagens entregando uma garrafa de água a um dos invasores.

GDias afirmou que, embora seja preciso analisar as circunstâncias que levaram o major a agir dessa forma, se tivesse visto “o teria prendido”. “Que na verdade houve um corte e edição na gravação de aproximadamente 30 minutos, ficando claro que não estava no mesmo tempo em que ele entregou a garrafa de água”, destacou.

O ex-ministro disse que todas as pessoas que aparecem nos vídeos no 3º piso do Planalto já foram identificadas e os nomes encaminhados ao ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, e a Alexandre de Moraes. O terceiro andar é onde fica o gabinete presidencial.

RISCO

À PF, o ex-ministro disse também não saber qual era a classificação de risco para o dia dos atos violentos e que “seria de normalidade”. Afirmou também que o GSI não foi convidado a participar da reunião pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal sobre os preparativos para o dia.

“Que indagado se o declarante entende se houve apagão da inteligência, respondeu que acredita que houve um ‘apagão’ geral do sistema pela falta de informações para tomada de decisões”, disse ele.

A queda de GDias do GSI tornou inevitável a realização de uma CPI mista para investigar os atos violentos, com a oposição insistindo que o governo federal teve atuação leniente e facilitou a invasão à sede dos Três Poderes.

A base aliada, que não queria inicialmente uma comissão de inquérito para não atrapalhar a agenda econômica no Congresso, passou com a queda do ministro a apoiá-la, mas vai querer controlar os rumos da apuração e explorar a tentativa de golpe.

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