09/09/2009 - 7:00
Os grandes líderes exercem uma surpreendente influência sobre a moda de seu tempo. Essa é a principal conclusão a que se chega depois de visitar a exposição Fashion & Politics, em cartaz até 7 de novembro no Fashion Institute of Technology, em Nova York, nos Estados Unidos. Em exibição, peças e acessórios que testemunharam, refletiram e difundiram movimentos políticos.
“Pesquisamos o assunto por oito meses e nos inspiramos nas recentes eleições presidenciais nos Estados Unidos”, disse à DINHEIRO Melissa Marra, curadora da exposição. “Quando começamos a discutir percebemos que a relação entre política e moda era bastante antiga”, afirma Jennifer Farley, que dividiu a organização do evento com Melissa. As duas pesquisadoras também analisaram o impacto que acontecimentos históricos geram na forma de se vestir das pessoas. “A exposição acompanha as grandes mudanças culturais e sociais.”
São mais de 100 trajes, tecidos e acessórios que foram concebidos para agradar a presidentes ou demarcar uma posição política. Logo na galeria inicial é possível comprovar a onda de patriotismo que invadiu os Estados Unidos em 2001, pouco após o ataque às Torres Gêmeas. Nesse espaço, está exposto o “Flag Dress”, vestido de seda criado pela estilista Catherine Malandrino que traz estampada a bandeira americana. Detalhe: a peça foi usada por várias celebridades, ansiosas por demonstrar seu nacionalismo.
Outros artigos femininos curiosos são o vestido “Ike” (apelido do ex-presidente Dwight Eisenhower), elaborado em 1956 para apoiar o então candidato presidencial, e um vestido de papel em que se lê “Nixon”, uma desavergonhada homenagem ao ex-presidente americano Richard Nixon.
“Sempre há um posicionamento político na criação do estilista, pois ele tem uma opinião sobre o que ocorre em sua época”, afirma Miti Shitara, professora de história da moda da faculdade Santa Marcelina. Os americanos parecem ter o hábito de demonstrar seu patriotismo por meio da moda. Na Segunda Guerra Mundial, as mulheres usavam sapatos de salto em couro vermelho, branco e azul, as cores da bandeira americana.
OBAMA: o vestido do estilista francês Jean-Charles de Castelbajac foi apresentado em seu desfile de outubro de 2008 e mostra seu posicionamento quanto às eleições americanas daquele ano
A moda sempre refletiu grandes movimentos políticos e sociais. Os hippies questionavam o sistema social e seus integrantes se vestiam de maneira desleixada justamente para expor seu desprezo pela sociedade americana. O cabelo black power, que ganhou espaço na década de 1970, expressava o poder que os negros sonhavam em conquistar. As boinas sempre serviram de vitrine ideológica: as vermelhas remetem ao comunismo e as verdes em geral traduzem o espírito patriótico de seu portador.
“Recentemente, podemos pensar em John Galliano, que lançou uma coleção intitulada ‘o Afeganistão rejeita os ideais ocidentais’, e no brasileiro Ronaldo Fraga, que fez um desfile criticando a transposição do rio São Francisco”, afirma a professora Shitara. “Isso sem contar os lenços de origem palestina que viraram tendência em 2007.”
NIXON: vestido em papel craft criado pela marca Mars of Asheville em apoio à candidatura do ex-presidente americano Richard Nixon
O maior mérito da exposição é trazer referências de outros países. Na década de 1960, ficou famoso um tailleur estampado com o rosto do ditador chinês Mao Tsé-tung, criado pela estilista Vivienne Tam, nascida em Hong Kong. A esquisita peça também está exposta em Nova York.
MAO TSÉ-TUNG: a estilista chinesa Vivienne Tam usou neste vestido a padronagem jacquard com o rosto do ditador em 1995