29/09/2004 - 7:00
Difícil definir o Grupo Luft, do Rio Grande do Sul. É uma transportadora? Uma consultoria? Uma indústria farmacêutica? De alimentação? Talvez seja um pouco disso tudo. Mas, para saber ao certo, é preciso voltar um pouco no tempo. O ano era 1990. Depois de 15 anos de atividades, a próspera transportadora Luft, de Porto Alegre, conheceu a dura realidade de uma concorrência agressiva. Enquanto ela perseguia qualidade, o setor de ?indústria do frete?, por meio de centenas de empresas nanicas naturalmente mais enxutas, privilegiava o baixo custo. As margens da Luft foram se achatando, o faturamento foi para o buraco, e a companhia gaúcha quase foi junto. Àquela altura, as alternativas eram só duas: encolher o negócio e dançar a música do simplório leva-e-traz de pacotes ou se reinventar. Venceu a segunda opção. A Luft passou a cuidar da estratégia do cliente, desenvolvendo fornecedores, envolvendo-se na coleta de matéria-prima, no armazenamento de produtos, na execução de embalagens, na análise do fluxo de estoque e prestando consultoria em muitos casos. Deu certo. Condenada a ser apenas mais uma no ramo de transporte de carga, a Luft se transformou numa companhia que, na cadeia produtiva, só não fabrica, de resto… Ela tem, por exemplo, farmacêuticos contratados que produzem as bulas de medicamentos importados da Johnson & Johnson, palpita na linha de montagem de caminhões da Mercedes e até etiqueta os CDs da Fnac. Não é pouca coisa. ?Por isso, digo que vou dobrar o tamanho da companhia até 2008?, afirma Luciano Luft, presidente do grupo. Quanto isso significa em dinheiro ele não diz. Mas não errará por muito quem arriscar algo como R$ 1 bilhão.
O ovo-de-colombo da Luft surgiu na definição de operações altamente especializadas em cada área de negócio, contando com armazéns em 19 Estados e que totalizam mais de um milhão de m2. ?O primeiro setor em que nos debruçamos foi o de defensivos agrícolas. Depois abrimos outras operações (farmacêuticos, fast-food, varejo e combustíveis)?, conta Luft. Ele já ensaia o ingresso no setores petroquímico e de autopeça e recentemente comprou a distribuidora de combustíveis Petrosul.
Houve, como conseqüência, a evolução da estocagem de produtos para uma proposta de terceirização de serviços. Uma de suas maiores clientes, a Fnac, era obrigada a manter em cada loja uma área de recebimento de mercadorias para etiquetagem dos CDs. ?É um metro quadrado muito caro para fazer esse trabalho. Agora nós fazemos a operação, o que libera espaço útil para o show-room da loja?, diz Luft. Outro caso: há pouco tempo, a empresa retirava guardanapos de papel, de um mesmo fornecedor, para três clientes (Casa do Pão de Queijo, Pizza Hut e Bob?s). Cada um deles possuía um padrão de tamanho, o que encarecia a unidade vendida. A Luft propôs aos quatro envolvidos a unificação do modelo de guardanapo. ?Por causa dessa relação de confiança, temos literalmente o talão de cheques de nossos clientes para efetuar suas próprias compras?, diz.
Por ser a maior compradora de veículos de carga da Mercedes-Benz, a Luft faz da montadora um verdadeiro laboratório de experiências, sempre visando o aumento da capacidade de carga dos caminhões e maior economia. Ela já pediu à Mercedes que seus caminhões viessem sem o banco do passageiro, com chassi feito com material mais leve e apenas rodas de liga leve. ?Eles testam e sugerem adequações ao produto antes de seu lançamento no mercado?, diz Gilson Mansur, diretor da montadora. Para a Mercedes, é o cliente dos sonhos ? além de comprar muito, ajuda no desenvolvimento. E não cobra nada por isso.
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UMA REVOLUÇÃO EM 12 ANOS
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