19/08/2009 - 7:00
R$ 4,6 bilhões foi a receita total do setor de moda íntima brasileiro no ano passado
Quem compra suas cuecas, caro leitor? Segundo a Duloren, é grande a probabilidade de que a peça que você está usando nesse exato momento tenha sido comprada por sua mulher ou namorada. E foi pensando nisso que a empresa, conhecida fabricante de calcinhas e sutiãs, decidiu lançar uma linha de roupa íntima masculina.
O mais surpreendente é que a Duloren não criou uma marca específica para esses artigos. A empresa resolveu manter a grife Duloren nas etiquetas das cuecas, sem temer que isso ferisse os brios dos consumidores ou que dificultasse a concorrência com marcas estabelecidas, como Zorba e Hering.
Até agora, a estratégia tem se provado acertada, e 7% de sua receita já vem da venda de artigos masculinos. De acordo com o dono da confecção, Roni Argalji, a intenção da Duloren é gerar pelo menos 10% de suas receitas com esses produtos.
Paralelamente, esse é o caminho encontrado pela empresa para abocanhar uma fatia ainda maior do mercado de moda íntima brasileiro que, por ano, movimenta R$ 4,6 bilhões. “Quem mais compra cueca no Brasil são as mulheres. Elas são responsáveis por mais de 60% das aquisições desses produtos”, diz ele. Para Argalji, faz todo sentido aproveitar a força da marca Duloren junto às mulheres para convencê-las a comprar cuecas para seus maridos e namorados.
“Além disso, isso nos permite utilizar melhor os pontos de venda em que já oferecemos nossos produtos”, afirma o empresário. “Aproveitando o mesmo canal de distribuição, posso otimizar o trabalho do lojista e aumentar meu faturamento”, acrescenta o dono da Duloren. A linha masculina ainda não está nas grandes redes, mas tem presença nacional ampla, graças a uma equipe de 110 vendedores próprios que percorrem o País fechando contratos com varejistas de pequeno e médio portes.
A preparação para o lançamento da linha masculina, ocorrido em outubro do ano passado, foi longa, afirma o empresário. “É um trabalho de seis meses a um ano. Depois mais seis meses para formar estoque suficiente”, afirma ele. Todo esse processo consumiu R$ 500 mil em investimentos, revela. S egundo Argalji, a ideia é recuperar o investimento em cerca de dois anos.
A Duloren, explica, tem capacidade suficiente para mais do que quadruplicar a produção de cuecas, caso seja necessário. Apesar disso, o empresário prefere uma abordagem mais conservadora em relação à produção. “Só vou aumentar o ritmo se realmente houver demanda”, afirma. Hoje, a companhia fabrica cerca de 1,2 milhão de peças por mês, embora apenas cerca de 80 mil sejam destinadas aos homens.
O conservadorismo, porém, pode mudar no futuro, revela o dono da Duloren “Se as cuecas tiverem muito sucesso, eu vou pensar em aumentar a produção e até em elevar a participação delas na minha receita. Afinal, eu faço o que o consumidor pede”, diz Argalji. A diversificação no portfólio de produtos da Duloren não significa que a empresa quer transformar radicalmente sua imagem.
Para Argalji, é interessante criar essa nova fonte de receitas, mas ele não acredita que as cuecas algum dia terão mais importância que calcinhas e sutiãs na Duloren. “A venda de artigos femininos não vai parar de crescer. As cuecas serão apenas um outro segmento para mim.
Não é possível misturar as duas”, afirma o empresário. Antes do lançamento, apenas uma possibilidade preocupava o empresário: uma eventual rejeição das cuecas Duloren pelo público masculino, por se tratar de uma marca reconhecidamente feminina.
Segundo ele, porém, isso não aconteceu. Na verdade, as vendas superaram – e muito – suas expectativas iniciais. No fundo, porém, isso pode ser ilusório. Como o próprio Argalji diz, são as mulheres, e não os homens, que compram cuecas. E serão os homens, e não as mulheres, que vão usar – ou não – essas mesmas cuecas
“Quem mais compra cueca no Brasil são as mulheres, e não os homens”
Roni Argalji, presidente da Duloren