Quando um visitante é recebido no castelo de Windsor, uma das principais residências da família real britânica, no condado de Berkshire, na Inglaterra, costuma ser acolhido com pompa e circunstância pela rainha Elizabeth II. Foi assim em abril deste ano, quando o presidente da Irlanda, Michael Higgins, fez uma visita histórica à realeza, a primeira após a independência de seu país, há 100 anos, como símbolo de amizade e cooperação com o Reino Unido. Para o jantar comemorativo da efeméride, cerca de 300 funcionários que lá trabalham deram o melhor polimento possível para a prataria, os cristais e porcelanas que estão na residência real há séculos.

Entre as louças exibidas aos convidados, destacam-se as porcelanas da portuguesa Vista Alegre, segundo afirma a própria empresa. A boa notícia para quem aprecia a marca é que as porcelanas da empresa fundada na região de Aveiro, em Portugal, em 1824, estarão ao alcance dos brasileiros. “Vamos inaugurar uma butique em São Paulo em breve”, afirma Nuno Barra, diretor e porta-voz da empresa. Com a abertura da loja na capital paulista, a expectativa é de que a marca ganhe maior visibilidade no País. Ao lado de Portugal, Espanha e Estados Unidos, o Brasil já é um dos maiores mercados consumidores da marca, com 4,5% do faturamento de R$ 164 milhões.

“Nosso desafio é fazer com que os brasileiros, que já conhecem muito bem nossas louças, passem a comprar a parte de arte e decoração do portfólio da Vista Alegre”, diz Barra. A presença física no Brasil, que já ocorria por meio de revendedores, deve crescer também, uma vez que a expectativa da empresa é criar uma rede de lojas no País. Para conquistar os abonados locais, a empresa fechou uma parceria com o estilista paulistano Alexandre Herchcovitch, que deve lançar em breve uma coleção de porcelana com sua assinatura.

O sucesso das porcelanas no Brasil se deve à herança deixada pela aristocracia rural no século 19, que fez fortuna com a economia primário-exportadora, na opinião de Silvio Passarelli, diretor do MBA em gestão de luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Quando o País era predominantemente agrícola, diz o especialista, os convidados importantes eram hospedados na casa do fazendeiro, com todo o requinte, a prataria e a porcelana que existiam na época. A classe média, por sua vez, tentava imitar o estilo de vida da aristocracia. “Nós ainda valorizamos o ato de receber um convidado em casa”, afirma Passarelli.

“Apresentar uma louça de luxo é uma maneira de mostrar status aos outros, assim como exibir um carro de alto padrão ou uma joia de um estilista consagrado.” Presente em mais de 60 países, a Vista Alegre se orgulha de ser uma das marcas de porcelanas utilizadas pela monarquia britânica. “É um reconhecimento de que os produtos são de alta qualidade”, afirma Barra. É consenso entre especialistas que para se consolidar no mercado de luxo não basta ter tradição e bons materiais. Ao que tudo indica, a Vista Alegre sabe disso. “É por essa razão que também investimos em parcerias com estilistas, designers e artistas plásticos”, diz o executivo.

Entre os parceiros estão os franceses Patrick Norguet e Christian Lacroix, o egípcio Karim Rashid, o alemão Carsten Gollnick, o inglês Sam Baron e o carioca Brunno Jahara. As peças chegam a custar mais de R$ 150 mil, como o objeto decorativo feito pela portuguesa Joana Vasconcelos. “As parcerias agregam não apenas porque o convidado traz consigo sua reputação, mas também porque há uma junção criativa que potencializa o valor do produto”, afirma ele. Segundo Passarelli, elas também funcionam bem ao mostrar para o público que, apesar de tradicional, a porcelana é cada vez mais atual.