31/12/2008 - 8:00
DIZEM QUE A PRIMEIRA VEZ a gente nunca esquece. Para a população da capital de Rondônia, Porto Velho, o dia foi 31 de outubro de 2008. A data marcou a inauguração da primeira escada rolante do Estado, na estréia do primeiro grande shopping. Mais do que atração turística, a novidade simboliza uma nova etapa no desenvolvimento econômico da região. Três anos atrás, Porto Velho tinha apenas cinco prédios com mais de seis andares. Eram imóveis simples para um município de 370 mil habitantes. Não chamariam a atenção de ninguém que conhecesse qualquer metrópole do País, mas eram sinais da engenharia humana num lugar onde quem define a paisagem é a imponente floresta. Mas tudo isso começa a mudar. Mais de 100 edifícios estão em construção ou aguardam autorização no departamento de planejamento da prefeitura. Outras três mil obras residenciais e 38 condomínios de luxo estão a todo o vapor para redesenhar a cidade, encravada na mata. Grandes terrenos abandonados no centro da cidade começam a se transformar em concessionárias de carros, galerias comerciais, lanchonetes, restaurantes, hotéis. O clima é outro. O shopping – que reúne 150 lojas e vai empregar mais de duas mil pessoas – foi construído por investidores canadenses e custou R$ 80 milhões.
Há mais de 3 mil obras residenciais sendo feitas
Porto Velho espera receber cerca de 20 mil novos moradores nos próximos três anos, em função das obras no rio Madeira, e as empresas que começam a desembarcar em Porto Velho têm se comprometido a contribuir para a melhoria da cidade. Não é para menos. Hoje, apenas 2% das residências da capital têm esgoto encanado. A meta é garantir 100% de coleta de esgoto e água tratada até 2014 – e dinheiro não deve faltar. Apenas a Usina de Santo Antônio gerará R$ 600 milhões em impostos durante a construção e desembolsará pouco mais de R$ 1 bilhão em iniciativas socioambientais, que incluem quatro escolas em Porto Velho, uma em Jaci-Paraná e nove policlínicas na capital.
Na cidade, já falta mão-de-obra em tudo. Alstom-Bardella e Votorantim construirão fábricas na capital de Rondônia para atender à demanda das hidrelétricas. A rede atacadista Makro vai abrir uma superloja nas próximas semanas. A varejista Carrefour também procura um terreno para a construção de um megacentro de distribuição, que atenderá toda a região Norte. Pelas ruas da cidade, diversos anúncios de empreendimentos da Gafisa comprovam a chegada dos investimentos. A arrecadação de impostos, hoje em R$ 360 milhões ao ano, crescerá cinco vezes, assim que a primeira usina, a de Santo Antônio, entrar em operação. “Porto Velho é a peça-chave para o crescimento do Brasil. A cidade será um pilar para integrar a região amazônica com os países vizinhos e também um canal logístico”, diz o economista Valdemar Camata, ex-diretor da Federação das Indústrias de Rondônia e consultor da Odebrecht.
O impacto já é sentido pela população local. “Rondônia e Porto Velho estão crescendo muito rápido e a população ficou bem mais rica e animada a gastar depois que as usinas foram anunciadas”, diz o taxista José Maria Borges Reis. “Enquanto vocês lá no Sudeste falam tanto no petróleo, o rio Madeira é nosso pré-sal”, completa ele. Esta não é a primeira vez que Porto Velho vivencia o fenômeno do crescimento. No começo do século, quase mil estrangeiros – entre eles ingleses, americanos e franceses – ocuparam a cidade atraídos pela madeira abundante e pela construção da Ferrovia Madeira-Mamoré. No início dos anos 70, da noite para o dia Porto Velho recebeu milhares de novos moradores. Eram aventureiros em busca do ouro que o rio Madeira trazia da Cordilheira dos Andes. Os garimpos trouxeram prosperidade, mas também devastação – o mercúrio contaminou rios e alimentos. Depois disso, o Estado se tornou uma fronteira agrícolas, puxado pela extração de madeira, agricultura e pecuária – há 12 milhões de cabeças de gado em Rondônia, o que representa oito animais por habitante. Aquele tempo de exploração desenfreada parece ter acabado. O novo ouro de Rondônia é a energia elétrica. Aquele mesmo rio que no passado levou para Porto Velho peixe e ouro começa agora a trazer a verdadeira prosperidade.