09/08/2006 - 7:00
Praticantes de esportes radicais, diabéticos, pilotos de avião… A lista de pessoas excluídas dos seguros de vida convencionais é grande. Faz parte da lógica do negócio: quanto maior a probabilidade de sinistro envolvendo o cliente, maior o risco da seguradora, que terá de pagar indenização para o beneficiário da apólice. Algumas empresas, no entanto, começam a olhar para esses grupos não como um problema em potencial, mas como uma nova oportunidade de negócio. ?Em vez de vender commodities e concorrer com os grandes bancos, optamos por ganhar mercado oferecendo produtos específicos?, afirma Francisco de Assis Fernandes, diretor da seguradora American Life.
O primeiro desses seguros foi o American Life Diet, focado em portadores de diabetes (tipos 1 e 2), com idades entre 25 e 60 anos. A companhia foi buscar na Alemanha uma tábua biométrica (instrumento utilizado para medir a duração de vida média de um ser humano) específica para diabéticos. E adotou a tecnologia para avaliação de riscos da Munich Re, a maior resseguradora do mundo. Como se trata de um seguro cujos riscos são latentes, a análise é mais detalhada. São exigidos do candidato, por exemplo, exames de eletrocardiograma e de taxa glicêmica. Os valores são, em geral, 30% superiores aos dos seguros tradicionais. Um homem de 45 anos de idade não dependente de insulina que contrate o Life Diet pagará R$ 206,30 por mês por uma apólice de R$ 200 mil.
Na mesma seguradora, é possível encontrar um seguro específico para pilotos de avião (com cobertura para a perda do brevê, a carteira de habilitação aérea) e outro para motoboys (são dez mil segurados pela companhia), além de uma apólice especial para homossexuais. ?Existem 18 milhões de gays excluídos do setor de seguros. Não pelo risco, mas pela discriminação?, observa Fernandes. O produto da American permite a escolha do companheiro do segurado como beneficiário e está sendo testado, no momento, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Na hora de contratar um seguro de vida, praticantes de esportes radicais, sejam eles profissionais ou atletas de fim de semana, encontram tanta dificuldade quanto pessoas com doenças crônicas ou que exerçam profissões arriscadas. A recusa em cobri-los vai na contramão do mercado. ?Empresários e executivos de alto nível procuram cada vez mais o esporte como terapia?, afirma Paulo Kalassa, proprietário da Kalassa Corretora de Seguros, que criou um departamento batizado de seguros radicais e hoje conta com cerca de 300 clientes aventureiros. ?Andar de bicicleta em São Paulo é mais arriscado que saltar de pára-quedas?, compara Kalassa, ele próprio com dois mil saltos no currículo. A corretora trabalha com o Vida Preferencial, produto criado pela Porto Seguro, cujo preço é definido caso a caso, segundo o estilo de vida de cada cliente. O seguro oferece vantagens como assistência em viagens nacionais e internacionais, e as apólices podem chegar a R$ 1 milhão. Desde o início do ano, a seguradora MetLife também oferece produtos para profissionais do risco, como policiais, bombeiros e vigilantes; praticantes de asa-delta, paraquedismo e mergulho, além de portadores de doenças crônicas sob controle. O seguro paga indenização em dobro nos casos de falecimento ou invalidez permanente por acidente. O preço depende da profissão ou do esporte. ?Não há seguro sem aceitação, e sim seguro taxado de forma errada?, resume Kalassa.