Era uma vez uma empresa que ganhou fama e prestígio mundial por sua incrível capacidade de fabricar produtos revolucionários. O sucesso era tamanho que até um dos herdeiros do império Disney, Roy E. Disney, tentou comprá-la na marra, através de uma oferta hostil. A companhia em questão é a Polaroid Corporation, que virou sinônimo de câmeras de revelação instantânea. Na quinta-feira 11, no entanto, a empresa fundada em 1937 pelo cientista Edwin Land, deu mais um passo rumo ao precipício. Vergada sob o peso de uma gigantesca dívida de US$ 948,4 milhões e sofrendo de uma profunda letargia na renovação de produtos e negócios, a empresa não teve outra opção senão pedir concordata. O glamour e a admiração do passado foram substituídos por uma desconfiança crônica. Investidores de Wall Street não querem saber dos papéis da Polaroid. Uma boa medida desse fenômeno é a rápida erosão do valor das ações da companhia, que minguaram de US$ 50, no início de 1998, para US$ 0,28 na última semana.

A Polaroid caiu vítima de seu próprio sucesso. Desde a invenção do processo de revelação instantânea, em 1947, a empresa, que nasceu como fabricante de equipamentos militares (máscaras de mergulho, óculos para pilotos de caça e binóculos), vinha desfrutando de uma posição confortável no mercado. Sua máquina fotográfica foi alçada à condição de ícone. Na década de 1960, a Polaroid foi incluída na lista das 50 mais importantes companhias dos Estados Unidos. Nada parecia ameaçar a sua supremacia. No início dos anos 90, porém, o setor viveu novos tempos com a entrada de fortes rivais no mercado fotográfico e a chegada da tecnologia digital.

Letargia. O presidente Gary T. DiCamillo, que assumiu a companhia em 1995, demorou para agir e quando decidiu entrar no jogo já era tarde demais: os concorrentes estavam anos-luz à frente da Polaroid. DiCamillo ainda tentou alternativas como a migração para o segmento de produtos profissionais. Mas os ganhos ficaram aquém das expectativas. A letargia fez a Polaroid, então, jogar a toalha.

A concordata está restrita à matriz, mas se o quadro evoluir para a falência arrastará para o buraco todo o império mundial da Polaroid. No Brasil, o gerente administrativo e financeiro, Luiz Augusto Dezidério, garante que, por hora, nada muda. ?Importamos os produtos da subsidiária da Holanda e os embarques seguirão de acordo com a necessidade do mercado?, explica. Ele diz ainda que a representação local já fez seu ?dever de casa?. Fechou escritórios no Rio e Recife e concentrou as operações em São Paulo. O número de funcionários foi reduzido à metade (para 20). Todas as filiais do mundo estão em compasso de espera. É uma triste situação para uma empresa que virou sinônimo de revelação instantânea. Enquanto o fundador Edwin Land esteve no comando da companhia ? ele aposentou-se em 1980 ? a Polaroid manteve a fama e o rumo dos bons negócios. Não seria exagero dizer que foram os executivos profissionais que ?queimaram o filme? da empresa.