O computador, o telefone, o laser, o satélite, a fibra óptica. É difícil encontrar algum acessório do modo de vida contemporâneo que não tenha sido pensado ou desenvolvido nos laboratórios Bell. Há duas semanas, o Bell Labs registrou um número recorde de 30 mil patentes. Com seis Prêmios Nobel no currículo, o centro transformou-se no mais poderoso ícone do desenvolvimento científico e tecnológico do planeta. Mas todas essas medalhas não foram suficientes para protegê-lo do desaquecimento da economia americana ? mais precisamente da crise que assolou as empresas que fornecem equipamentos de infra-estrutura para telecomunicações. Depois que a AT&T se dividiu em três
empresas em 1995, o Bell Labs passou para o controle da Lucent Technologies, que dedica 10% de todas as suas receitas para a pesquisa. Com a explosão da crise no setor de telecomunicações, em meados de 2001, a empresa chegou a aumentar a porcentagem que é dedicada ao Bell Labs para 12%. Em termos absolutos, porém, o orçamento do centro de pesquisas teve uma queda vertiginosa. Encolheu de US$ 350 milhões em meados da década de 90 para
US$ 115 milhões. ?Lamentavelmente, o Bell Labs está sofrendo a mesma crise da Lucent, que já esteve à beira da falência?, diz José Ellis Ripper Filho, cientista e diretor-presidente da empresa de tecnologia Asga, em Campinas.

Ripper e outros doze pesquisadores brasileiros trabalharam
no Bell Labs na década de 60 e depois vieram para a Universidade Estadual de Campinas?Unicamp. No Instituto de Física daquela instituição, Ripper se dedicou ao desenvolvimento de um laser
para a comunicação em fibras ópticas. ?O Bell Labs foi a escola de gente do mundo inteiro?, diz Ripper. Tendo ajudado centros de pesquisa em todo o mundo com mão-de-obra de primeira qualidade, o Bell agora pede socorro.

A situação da pesquisa atual é completamente diferente da vivida na década de 60. Naquela época, o centro tinha todo dinheiro à sua disposição e podia arriscar-se em diversas áreas sem se preocupar com o retorno do capital. Um exemplo clássico desse período foi a invenção do transistor, que levou ao desenvolvimento dos chips de computadores. Em 1947, três pesquisadores ganharam o Prêmio Nobel com a descoberta que hoje está dentro de cada produto eletrônico. Surpreendentemente, a AT&T registrou a patente como domínio público. O retorno sobre o capital investido foi praticamente nulo. Agora o dinheiro ficou mais difícil de encontrar e nenhuma linha de pesquisa é aberta sem um estudo cauteloso do retorno do investimento. Por outro lado, as receitas da atual mantenedora do Bell Labs, a Lucent, são metade do que eram em 2000. Além do cancelamento de pedidos de operadoras, essa queda também é explicada pelas sucessivas companhias que nasceram das entranhas da antiga AT&T, tornaram-se independentes e levaram consigo parte do seu faturamento (e das dívidas também). A primeira grande quebra foi na divisão da AT&T em operadoras locais ainda em 1984. Em 1995, a companhia se desmembrou em três. Foi quando nasceu a Lucent, focada na fabricação de equipamentos. Mais tarde, a própria Lucent pariu outras duas. O impacto no Bell Labs foi enorme. A esperança dos 10 mil funcionários restantes está no balanço financeiro da Lucent. Depois de 13 semestres consecutivos no vermelho, a companhia espera voltar a lucrar no terceiro trimestre.