Era impensável até bem pouco tempo atrás imaginar a cena: os EUA à beira do calote. Provavelmente tudo se resolve até a data fatídica de 2 de agosto, quando vence parte dos compromissos de mais US$ 14 trilhões em obrigações da dívida e quando esse teto será rompido. Mas o simples fato de ver a economia americana chegar tão perto do cadafalso é surpreendente. 

Em meio a picuinhas políticas dos partidos, à desordem das contas públicas e à quase apatia do presidente Barack Obama, os EUA dão conta para o mundo de sua fragilidade financeira. Sim, eles podem ir à moratória, não na definição clássica para o termo, mas sob a espécie de um congelamento brando dos gastos possíveis para o governo. O que isso implica? Continua valendo a máxima segundo a qual se os EUA ficam resfriados, o mundo pega uma pneumonia. A perspectiva é ainda mais assustadora em meio à debacle de economias do Velho Continente. 

 

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Líderes da zona do euro acertaram às pressas na semana passada um acordo de 109 bilhões de euros para salvar a Grécia da falência pura e simples – e assim garantirem a sua própria sobrevivência. Mas a nuvem negra que paira sobre a Europa pode virar tempestade se os EUA apertarem mesmo o cinto, colocando tudo a perder. Como grande comprador da cadeia produtiva global – o maior de todos –, o país funciona como uma espécie de fiel da balança. O dilema é seguir nesse papel sem comprometer a saúde da economia interna. Centenas de empresas, de governos e de mercados têm projetos de desenvolvimento vinculados aos EUA e todos torcem para que a recuperação ali seja rápida e sem sustos. 

 

O problema é que os EUA, há muito tempo, se acostumaram a gastar mais do que podem pagar, um péssimo hábito que levou a conta negativa a crescer como bola de neve, alcançando o ponto crítico. Nesse quadro de penúria mistura-se a desindustrialização – empresas como a Apple, por exemplo, foram fabricar suas quinquilharias na China porque era mais barato – com as barbeiragens do mercado financeiro, que emprestou a rodo e sem lastro para milhões de americanos incapazes de entender quanto e quando iriam pagar o que devem. O gigante pode ficar de joelhos porque, da cabeça aos pés, tudo e todos conspiraram para a sua fraqueza.