No plano das ilusões recorrentes, a reforma administrativa segue como aquela que um dia sairá, quando políticos deixarem de lado as veleidades de seus interesses eleitoreiros e o temor da perda de base de apoio na esfera pública. Sim, porque só isso para explicar tanto jogo de empurra com a barriga, dribles na agenda e engavetamento proposital de um dos temas mais sensíveis, inadiáveis e responsável pelo gasto público insustentável.

Sai governo, entra governo, e ela, a reforma, continua nos escaninhos das promessas não cumpridas.

O ex-czar da economia, Paulo Guedes, chegou a garantir por meses a fio que colocaria de pé a ideia. Elaborou o projeto. Prometeu encaminhá-lo ao Congresso. Marcou até data para a sua discussão. Mas o chefe “mito” Messias Bolsonaro, receoso do impacto que o assunto causaria em seus planos de reeleição, postergou implacavelmente e colocou por terra qualquer possibilidade nesse sentido. O presidente Lula hoje no poder não quer nem pensar na alternativa. Ancorado nos braços do funcionalismo, de origem basicamente sindical, ele entende tal reforma como um bicho-papão a cercear direitos e oportunidades de trabalhadores.

Que o Estado gaste o que for preciso para manter a máquina – mesmo já sendo inchada, ineficiente e cara. Assim defende o demiurgo de Garanhuns e orienta o corpo ministerial no mesmo sentido.

O presidente da Câmara dos Deputados, o inefável Arthur Lira, que já não tem nada mesmo a perder (uma vez que segue no segundo mandato da Casa e não poderá ser reconduzido), levantou novamente a questão como forma de projetar-se no papel do bom-moço preocupado em passar a tesoura nas despesas imorais. Apesar do empenho sistemático, não vem sendo bem-sucedido. Já levou um sonoro não de ministros que rejeitaram o formato em trâmite no Congresso. Não conta com maioria entre seus pares do parlamento a respeito da pauta. Também pudera! Eleições municipais estão logo ali na frente, ano que vem, e a indisposição com o aparato de servidores públicos seria quase um suicídio para diversas candidaturas e os potenciais aspirantes. Por essas e outras, em que pese ser considerada uma mudança de Estado das mais vitais e urgentes, a reforma administrativa segue em banho-maria, caminha a passos de tartaruga. Parece esperar por um momento extraordinário que nunca vem. Seria uma revolução e tanto para economia e o ajuste fiscal em geral qualquer mexida na área.

O custo do serviço público oferece distorções de diversas ordens. Penduricalhos salariais, funcionários fantasmas, pagamentos extras generosos e impraticáveis, aposentadorias em valores a perder de vista. O contribuinte brasileiro é assaltado diariamente no bolso por esse sistema anacrônico e nada é feito no intuito de mudá-lo.

O Brasil está desconectado da realidade. Inúmeros estudos comprovam. Infelizmente, atacar o problema parece não ser prioridade. Muito jogo de cena e nada de concreto. A estrutura estatal segue engordando, com a criação de vagas irrelevantes, indicações políticas, agregados de toda ordem. No mundo, apenas repúblicas bananeiras apresentam quadros semelhantes e, mesmo assim, longe do tamanho exibido por aqui. Mudar essa realidade é uma missão mister, mas está a exigir governantes com coragem para levá-la adiante.