Gosto não se discute, ensina o batido chavão. O americano Leo McCloskey levou esse aforismo a um ponto definitivo. Ele criou a Enologix, uma empresa que analisa a composição química dos melhores vinhos do mundo e, com essas informações, entrega às vinícolas a receita para produzir rótulos de sucesso garantido, afeitos ao paladar dos apreciadores. Ela estuda o conteúdo de tintos e brancos escolhidos para avaliação e o compara com uma safra de 100 pontos segundo dois papas da enologia, os americanos Robert Parker e James Laube. A empresa, cujo faturamento anual chega a US$ 1,4 milhão, promete a seus clientes 95% de certeza no lançamento de um vinho nota 90 de acordo com a escala de Parker e Laube. Em outras palavras: faz como os produtores de Hollywood, que repetem fórmulas para garantir bilheteria.

?O mundo do vinho é tão grande que sem essas margens de avaliação, viveríamos o caos?, diz McCloskey. ?O consumidor não precisa conhecer o universo do terroir, dos vinhedos do interior, ele quer apenas saber se vale a pena pagar US$ 30 por uma garrafa?. A Enologix guarda um banco de dados com 70 mil garrafas, divididas em quatro categorias (leia abaixo). Tem contrato com duas dezenas de novos produtores, especialmente na Califórnia, onde está a sede da companhia. Não pára de crescer, ao ritmo da região que há quinze anos tinha 800 produtores e hoje ostenta mais de 1700.

A postura pasteurizada da Enologix, capaz de harmonizar o gosto na marra, tem adversários. Em primeiro lugar, os especialistas acreditam que os vinhos com boa nota na escala dos 100 pontos, adorados no Novo Mundo, envelhecem bem mas podem ser amargos e adstringentes quando jovens. ?A Enologix realiza uma espécie de engenharia reversa danosa aos amantes de vinho?, diz Artur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers. ?Promovem uma clonagem tola. Fazem como aqueles falsários que aprenderam a copiar telas famosas de gênios como Picasso e Van Gogh. É contrafação, além de matar a arte da enologia?.

Os quatro estilos
A Enologix divide os tintos em categorias

 1 – Cores pálidas, com baixo teor de tanino
Os mais conhecidos:
os franceses Pinot Noir e Burgundy
2 – Cores pálidas, com patamar de tanino mais elevado
O mais conhecido:
Barolo italiano
3 – Tonalidade escura e tânica (trava na língua)
Os mais conhecidos:
Cabernet Sauvignon e Bordeaux
4 – Tonalidade escura mas pouco tânico
Os mais conhecidos:
a maioria das boas garrafas do Novo Mundo