09/05/2012 - 21:00
O som da música sobe repentinamente no lounge do hotel Guarda Golf, um luxuoso empreendimento na idílica cidade de Crans-Montana, paraíso dos ricos europeus cravado no coração dos Alpes suíços, no Cantão de Valais. Enquanto bebe um expresso para espantar o frio potencializado pela neve que cai do lado de fora, Nati Felli, a proprietária do lugar, começa a ficar inquieta. Olha para os lados, se ajeita no sofá e tenta disfarçar a aflição. Em um francês impecável, chama o responsável e ordena: “Diminua o som, por favor.” O que, para muita gente, poderia parecer pura implicância, para ela é crucial. “O sucesso deste lugar está nos detalhes e sou perfeccionista com tudo”, diz Nati.
Nati Felli: nascida em Bauru (SP), hoje ela é dona do hotel Guarda Golf e da Quality Immobilier,
empresa que constrói residências de alto padrão nos Alpes suíços.
E quem a vê andando pelos corredores do hotel-butique, inaugurado há quase dois anos, depois de investimentos de US$ 80 milhões, é capaz de jurar de pés juntos que ela é uma genuína nativa da terra do chocolate e do relógio. Mas não é. Natividade, seu nome de batismo, é, na verdade, uma brasileira nascida em Bauru, no interior de São Paulo, há 45 anos, e que se tornou uma das grandes empreendedoras do setor hoteleiro e imobiliário da região. Junto com o marido Giancarlo Felli, médico fisiatra suíço de ascendência italiana, ela fundou a Quality Immobilier, que, desde 2000, constrói apartamentos residenciais em Crans-Montana. “Nosso primeiro negócio foi um prédio de cinco apartamentos com 140 metros quadrados cada um”, diz.
De cara, o negócio rendeu um lucro de US$ 1 milhão e eles não pararam mais. Depois, ergueram mais três prédios, com apartamentos de 240 m² a 340 m², até que, em 2006, encontraram o local onde hoje é o Guarda Golf. Ali funcionava um hotel decadente e a ideia era mesclar serviço de hotelaria com residências. Nati, que vinha de uma tradicional família de cafeicultores de Bauru e havia estudado na Les Roches-Bluche, famosa escola de hotelaria no país, entre 1989 e 1990, não pensou duas vezes. “Visitei todas as estações de esqui da Suíça, da França, da Áustria e da Itália antes de construir o Guarda Golf”, diz Nati. “Precisava criar algo muito exclusivo, pois aqui em Crans-Montana estão as grandes fortunas da Suíça e da Europa.”
Hotel Guarda Golf
Depois de conhecer tudo o que havia no mercado, ela e o marido ergueram o hotel, com apenas 25 quartos e nove residências que são ligadas por um túnel. Detalhe: antes de iniciar as obras, a Quality Immobilier já havia vendido todos os apartamentos, por US$ 8 milhões cada um. São compradores do porte do banqueiro Jacob Safra Neto, filho de Joseph Safra, dono do Banco Safra, que vive na Suíça. Para receber esse tipo de cliente e de hóspedes como o estilista italiano Stefano Gabbana, um dos donos da grife Dolce & Gabbana, Nati, literalmente, não economizou. “Estouramos o nosso orçamento em US$ 10 milhões”, diz ela. As suítes, por exemplo, possuem, em média, 45 metros quadrados de área e mantêm um ar rústico sem perder a elegância e a modernidade.
Todos os quartos contam com equipamentos de automação. Basta usar um controle com tela sensível ao toque para fechar as cortinas, acender as luzes, ligar o som e a televisão de LED. Não é por acaso, portanto, que o Guarda Golf faz parte do The Leading Hotels of the World e do Swiss Deluxe Hotels, selos que atestam a qualidade do empreendimento. Enquanto a média do setor de hotelaria é manter um funcionário para cada suíte, o Guarda Golf possui dois, em um total de 50 empregados. Isso faz com que a sensação de exclusividade seja maior ainda. É só levantar os olhos para que alguém atenda. Toda a comida, desde os pães até os chocolates, também é preparada na cozinha do hotel, que conta com dois restaurantes de altíssima gastronomia.
Bem viver: spa (à esq.) com produtos de beleza assinados pelo cirurgião plástico carioca Ivo Pitanguy, restaurante (centro)
com alta gastronomia e suíte com sistema de automação fazem parte do cardápio do hotel Guarda Golf.
Para quem não quer esquiar durante o inverno ou jogar golfe no campo desenhado pelo americano Jack Nicklaus, no verão, há um spa dotado dos produtos Beauty by Clinica Ivo Pitanguy – um dos poucos no mundo a ter os cosméticos criados pelo papa da cirurgia plástica. “O Hotel Guarda Golf é um primor, perfeito para os produtos, pelo extremo bom gosto, excelente qualidade nos serviços e sofisticação”, diz Gisela Pitanguy, filha do cirurgião carioca e administradora da marca. Apesar de todos esses serviços, o hotel, cujas diárias custam entre € 400 e € 2 mil, ainda não atingiu o equilíbrio financeiro. “Abri em 2009, no auge da crise econômica”, diz Nati. “Acredito que, em 2013, consiga alcançar a meta.” Atualmente, a taxa de ocupação gira ao redor de 45%, ainda longe dos 70% almejados.
Para impulsionar o hotel, além de vender exclusividade, a ideia de Nati é mostrar que a pequena Crans-Montana, cidade com seis mil habitantes, e que na temporada de inverno recebe 40 mil pessoas, vai além do esqui. Na cidade, que tem entre seus residentes e frequentadores celebridades como o ator inglês Roger Moore (Bond, James Bond) e a atriz Sophia Loren, é realizado, todos os anos, no mês de abril, o Caprices Festival, um dos mais importantes festivais de música pop rock europeus. Em setembro, é a vez do Omega European Masters, o segundo maior evento de golpe do continente. A julgar pelos seus próximos passos, não falta otimismo à empreendedora brasileira. O plano é construir mais 12 suítes para o hotel e mais 20 residências – o que pode garantir um faturamento mínimo de US$ 140 milhões. “Construo com quase todas as unidades vendidas”, diz Nati. “Hoje tenho uma marca consolidada, fica mais fácil.”