Em fevereiro deste ano, Peixoto Accyoli, presidente da rede de imobiliárias Re/Max no Brasil, e Ernani Assis, vice-presidente da operação, viajaram para Denver, nos Estados Unidos. Os executivos tinham uma reunião marcada com Amy Miller, diretora global da The Re/Max Collection, bandeira do grupo americano voltada ao segmento de luxo. Os brasileiros já vinham conversando há alguns meses com a matriz sobre a possibilidade de trazer a marca ao Brasil e a expectativa era obter, naquele encontro, a aprovação para a empreitada. Depois de algumas horas de conversa, Amy, por fim, bateu o martelo. Até o fim de dezembro, a primeira unidade da The Re/Max Collection da América Latina vai abrir as portas em São Paulo. “Vemos uma oportunidade muito grande de atender uma demanda reprimida”, afirma Accyoli. “Além de ajudar a profissionalizar uma área em que ainda há poucas empresas atuando.”

O plano é abrir, até o fim de 2019, cinco unidades da Collection, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Considerando que, em todo mundo, a bandeira conta com 86 pontos de venda, de um total de 7,5 mil operações – todas franqueadas – do grupo Re/Max, o número já seria expressivo. O potencial para o Brasil, no entanto, é muito maior. Segundo Assis, existe espaço para ao menos 17 lojas da marca no País. “O mercado brasileiro é gigantesco e a matriz ainda arriscou pouco com a Collection”, justifica ele. Até o momento, a bandeira está presente apenas nos Estados Unidos e na Europa, dentre as mais de 110 regiões onde a Re/Max opera.

No Brasil, o investimento para a abertura de uma franquia da bandeira de luxo será de R$ 1,8 milhão, consideravelmente maior do que o aporte necessário para uma unidade tradicional da Re/Max – de R$ 80 mil. A expectativa é a de que, já em 2019, a marca represente 13% do faturamento da operação brasileira. A companhia não revela a receita no País, mas as vendas das 157 franquias locais do grupo movimentam R$ 800 milhões. A aposta da empresa é que a Collection se diferencie no mercado, principalmente, por oferecer um conceito mais amplo de luxo. “Ela não está associada só ao preço”, diz Assis. “Pode ser um apartamento de R$ 300 mil, mas se o Chico Buarque morou ali, ele entraria na Collection.”

A missão dos dois executivos não será fácil. “Há uma dificuldade muito grande de precificação de imóveis de alto padrão no Brasil”, diz Silvio Passarelli, diretor do programa de Gestão do Luxo da FAAP. “Além disso, a liquidez está muito comprometida nos últimos anos.” A configuração do segmento é outro desafio que a Re/Max terá que transpor. Hoje, boa parte das transações no País ocorre por meio da venda direta entre proprietários e consumidores. A empresa terá que convencer os potenciais clientes que vale mais a pena buscar um intermediário. Na empreitada, ela terá que disputar mercado também com redes já consolidadas no ramo, como a Coelho da Fonseca, que atua por meio de sua bandeira Private Brokers, e com a americana Sotheby’s. Apesar dos desafios, se for bem-sucedida, a Re/Max terá uma fatia e tanto para abocanhar. A estimativa é que o mercado de imóveis de luxo movimente, anualmente, mais de R$ 30 bilhões no Brasil.