Nesta segunda-feira 27, a japonesa Casio deve anunciar uma senhora reviravolta na sua divisão de informática. Vai pôr de lado o consumidor doméstico de computadores de mão e mergulhar de cabeça no mercado corporativo. Estão previstos dez lançamentos de handhelds da família Cassiopeia. O mais impressionante, no entanto, será a explicação dos motivos que levaram a companhia a essa mudança, que será implantada primeiro no Brasil. Ao contrário de muitas multinacionais que buscam no dólar, nos impostos e na política monetária a desculpa ideal para os seus fiascos, a Casio está assumindo que errou. E errou feio. No último ano fiscal, fechado em abril, a empresa faturou US$ 4 bilhões e registrou o primeiro prejuízo em 44 anos de história: US$ 210 milhões. Por quê? ?Fomos arrogantes?, resume David Chen, diretor comercial da Casio no Brasil. Ele se refere ao fato de a companhia ter ignorado os computadores de mão ? ou handhelds ? logo que eles surgiram, no meio da década de 90. Líder mundial na fabricação de agendas eletrônicas, na época a Casio se fechou na seguinte certeza: quem estava acostumado a digitar endereços e telefones nos miniteclados das agendas jamais passaria a ?espetar? o visor dos novos aparelhos com um palito plástico. ?Quebramos a cara?, diz Chen. Os japoneses até tentaram recuperar o tempo perdido lançando o handheld XL 7000 em 1994. Mas aí já era tarde. A americana Palm já era dona absoluta do mercado com 70% de um segmento que hoje tem 4 milhões de usuários. Conseqüência lógica: as vendas de agendas eletrônicas despencaram cerca de 40%, e o buraco no balanço da Casio só não foi maior porque as divisões de relógios e de calculadoras seguraram as pontas.

?Continuaremos produzindo handhelds para o varejo, mas este não será mais o nosso foco?, explica Ellen Taguchi, gerente nacional de vendas da filial brasileira da Casio. ?Daqui para frente, todos os nossos esforços estarão voltados ao atendimento de empresas.? Até porque um tombo é suficiente para aprender a lição. Pensar em enfrentar a Palm a essa altura do campeonato seria um erro tão grave quanto o primeiro. A nova estratégia coloca a Casio na briga pelo mercado de coletores de dados, que tem 8 milhões de usuários no mundo todo. Esses aparelhos são usados em fábricas, restaurantes e até na rua por representantes de vendas para tirar pedidos, conferir estoques, ler códigos de barra, etc. Muitas empresas já utilizam o handheld doméstico da Casio nesse tipo de tarefa. Ao migrar para a área corporativa e oferecer serviços e produtos específicos, a subsidiária brasileira pretende aumentar o número de clientes, escapar da sazonalidade enfrentada no mercado de consumo e crescer 15% em vendas. Devem ser vendidos 100 mil coletores de dados no Brasil em 2002. A Casio quer 35% do bolo e se tornar líder nacional já este ano. Para isso, está apostando na funcionalidade do sistema operacional de seus handhelds, o Pocket PC da Microsoft, e na robustez e no o poder de conectividade de seus equipamentos.

Tudo-em-um. Com o anúncio da novidade, serão lançados handhelds inéditos no País e modelos especialmente projetados para o uso corporativo e que andavam meio esquecidos. Três modelos foram projetados especialmente para agüentar o tranco do uso profissional. Eles têm a carcaça feita em plástico resistente a quedas e custarão entre R$ 2.600 e R$ 4.100. Também estarão à venda acessórios de última geração que prometem fazer do Cassiopeia um avançadíssimo ?tudo-em-um?. São placas de modem, câmeras digitais e leitores de código de barra, com preços de R$ 400 a R$ 1.800. A Casio não divulga quanto está gastando na reestruturação. Só em ações de marketing no Brasil, onde as vendas de agendas eletrônicas caíram de 112 mil (2000) para 54 mil (2001), serão investidos R$ 6 milhões este ano. Um terço disso vai ser usado na divulgação do novo negócio. Mais: a empresa quer o País no posto de maior desenvolvedor mundial de softwares para o Cassiopeia. Fundada em 1957, a Casio viveu dois grandes ?booms? ao longo da sua história. O primeiro, com calculadoras, nas décadas de 60 e 70. E o segundo, com os relógios G-Shock, nos anos 90. Agora, ainda está em dúvida se deve apostar todas as fichas nos handhelds. O passado mostra que é melhor se decidir logo antes que seja tarde demais.