O serviço sueco de streaming de música Spotify protagonizou uma bem-sucedida abertura de capital na Bolsa de Nova York, na semana passada. Em seu primeiro dia de comercialização, as ações subiram 25,7% e a companhia fechou avaliada em quase US$ 30 bilhões. Esse bom desempenho pode ser explicado pelo fato de a empresa ter criado um modelo de negócio que, ao mesmo tempo, destruiu e salvou da ruína um setor. As gravadoras, tombadas pela pirataria de música no mundo digital e pela falta de inovação, conseguiram ressurgir por meio de startups que apostaram em uma forma criativa de “vender” canções.

Em vez do tradicional CDs ou dos discos em vinil, essas companhias iniciantes passaram a comercializar um serviço através de uma assinatura mensal. Em vez 10, 20 ou 30 faixas empacotadas em um produto físico, os consumidores passaram a ter acesso a milhões de canções virtuais. A fórmula funcionou. Em 2016, as músicas digitais representaram 50% da receita global do setor, que atingiu US$ 15,7 bilhões. Startups inovadoras que revolucionam e destroem setores inteiros vão surgir ainda aos borbotões. Mas as companhias da Velha Economia, como são chamadas as empresas que atuam em negócios tradicionais de tijolo e argamassa, estão começando a reagir.

Uma lista feita pela revista americana Fast Company, que escolheu as 50 empresas mais inovadoras do mundo, ilustra essa reação. O ranking é liderado pelos nomes de sempre: Apple, Netflix, Square, Tencent e Amazon ocupam as cinco primeiras posições. A loja de roupas Patagonia, a rede farmacêutica CVS Health, jornal The Washington Post e a liga profissional de basquete NBA são os intrusos entre os 10 primeiros. Na América Latina, a rede varejista Magazine Luiza, fundada há 50 anos em Franca, interior de São Paulo, é a enxerida entre a fintech Nubank e o aplicativo de transporte 99.

O que explica a ascensão desses negócios tradicionais em uma lista antes recheada quase que exclusivamente por empresas de tecnologia? Há uma resposta óbvia: se não inovassem, eles poderiam ficar pelo caminho ou perder relevância. Há outra mais complexa. Essas companhias, observando o crescimento de negócios digitais, elaboraram estratégias para absorver as táticas de inovação das startups. Observe o exemplo do The Washington Post, comprado pelo bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon. A empresa encheu a redação de desenvolvedores, que trabalham lado a lado com os jornalistas, ajudando-os a desenvolver ferramentais mais ágeis de distribuição de conteúdo. O Magazine Luiza, por sua vez, criou o LuizaLab, um laboratório de inovação com a cultura do Vale do Silício. Lá, pode-se errar e lançar produtos que não estão 100% prontos com o objetivo de testar rapidamente novos serviços.

Uma pesquisa realizada pela consultoria francesa Capgemini com 200 empresas globais dos setores automotivo, financeiro, bens de consumo, varejo, manufatura e inovação, dá pistas das estratégias usadas para inovar. Segundo o estudo, 38% delas criaram centros de inovação em um núcleo tecnológico global para tirar proveito do ecossistema de startups, dos investidores de capital de risco e das instituições acadêmicas. O Vale do Silício, na região da Califórnia, nos Estados Unidos, é o lugar preferido de 61% das companhias que abriram esses laboratórios. Apenas se aproximar desse ambiente tecnológico não basta. Tem crescido também o chamado corporate venture.

Grandes empresas criaram também fundos de capital de risco para apostar em negócios inovadores. Em 2017, estima-se que 144 startups receberam aportes de pelo menos US$ 1 milhão cada no Brasil. Aproximadamente um sexto delas foram apoiadas por recursos de empresas, segundo o Latin American Startup Directory. É o caso da companhia de telefonia Telefônica, que conta com uma aceleradora batizada de Wayra. Ou do Bradesco, que criou o programa InovaBRA, que compra fatias em empresas. A lógica é simples: se não pode com elas, junte-se as elas. Ou, ao menos, aprenda com elas. Assim, no mínimo, sua empresa não será engolida pela força destruidora e criativa das startups.