09/03/2005 - 7:00
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos vive um paradoxo em relação à internet. De um lado ganha dinheiro com a entrega de produtos vendidos nas lojas de comércio eletrônico em operação no País. De outro, perde receita com a redução do número de cartas e telegramas que passam diariamente pelas suas centrais de distribuição. Os clientes, incluindo o mundo corporativo, estão preferindo usar as mensagens eletrônicas. Há quatro anos, a ECT processou 7,7 bilhões de documentos. No ano passado, o volume não ultrapassou 6,2 bilhões e para 2005 o número ficará estacionado em 6,10 bilhões. Esse setor representa 50% da receita de R$ 663 milhões anuais da estatal. Em busca do equilíbrio, a ECT tenta encontrar um caminho para reduzir o efeito do mundo digital sobre o seu negócio. Desde que o primeiro sinal de alerta foi ligado, a empresa tomou algumas medidas. A primeira foi criar uma variação do seu serviço de Sedex, que permite o envio mais rápido de encomendas. Em segundo, transformou o telegrama em uma operação digital que pode ser escrita a partir de uma página na rede e paga com cartão de crédito. ?Não há como brigar com a internet. Precisamos transformá-la em nossa aliada?, disse à DINHEIRO João Henrique de Almeida, presidente da ECT.
A saída mais ambiciosa nessa direção começou a ser construída no final de 2004. Após três anos de disputas, a ECT assinou contrato com o consórcio que montará o correio híbrido. Um investimento de R$ 4,5 bilhões nos próximos cinco anos e que resultará na criação de 14 centros descentralizados de impressão de cartas, telegramas, documento ou qualquer outro tipo de arquivo que possa ser impresso à distância e entregue por um carteiro nos grotões do País. Quando esses centros começarem a funcionar ? oito serão construídos dentro dos escritórios regionais dos Correios ?, as cartas e documentos de empresas que são enviados para os clientes em todo o País serão impressos o mais próximo possível do destino final.
Três dias. Por exemplo, uma administradora de cartões de crédito que precisa entregar faturas para os consumidores de Pernambuco faz hoje a operação a partir de São Paulo, onde grandes gráficas se encarregam da impressão e os Correios fazem a distribuição por via aérea. No correio híbrido, o arquivo seguirá digitalmente para Recife. Na capital pernambucana será impresso e distribuído. Hoje todo esse processo demora até 12 dias. ?O ganho será de no mínimo três dias?, afirma Aristeu Batista, presidente da Print Laser, uma das empresas integrantes do consórcio de nove empresas contratado pela ECT.
A redução parece mínima, mas ela representará um grande impacto no caixa das companhias que precisam cobrar dos seus clientes porque o prazo para o fechamento das contas será estendido e o de cobrança reduzido. ?O valor para os nossos clientes será imediato?, diz Batista, que dirige uma das maiores gráficas especializadas nesse tipo de documento no País. Sozinha, a Print Laser imprime mais de 50 milhões de contas por mês. O presidente da ECT também faz as contas com o projeto. João Henrique estima que ao final de 2009 a companhia que dirige terá lucrado R$ 1,5 bilhão com a operação, após o pagamento do investimento.
?Ao final do projeto, o volume de cartas e documentos aumentará de maneira considerável?, diz. E dessa forma, os Correios terão transformado a atual dor de cabeça em uma grande fonte de lucros.