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Ao redor do fogão: Os membros do Experience preparam prato em conjunto.

 

Um discreto buffet no bairro do Brooklin, zona sul da cidade de São Paulo é o cenário para o encontro de um grupo que mais parece uma confraria de amigos. Ao chegar, os convidados logo têm a primeira surpresa da noite: devem substituir o paletó por uma doma, o traje que os grandes chefs de cozinha usam. Aos poucos, os empresários travestidos de cozinheiros se acomodam em mesas e observam os chefs que comandam as caçarolas do restaurante paulistano Bela Sintra, especializado em gastronomia portuguesa, explicar como preparar um de seus pratos mais populares: o Bacalhau Nunca Chega, desfiado na panela acompanhado de batata palha e presunto cru. Depois da teoria, chega o momento de pôr as lições em prática. Diversos grupos de cinco pessoas se reúnem em torno de bancadas com fogões e os ingredientes à mão.

 

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Executivos do Paraná em viagem gastronômica à França

 

Enquanto uns cozinham, outros bebem vinho e a conversa segue animada. Mas que ninguém se engane com o clima de descontração. Os olhos estão todos voltados para os negócios. A cena acima trata-se de uma reunião do Experience Club, um empreendimento dos empresários Pierre Schürmann e Sergio Waib, cuja finalidade é promover encontros entre presidentes de empresas cujo faturamento é superior a R$ 100 milhões. O ideal do Experience Club é organizar uma atividade prazerosa, em um ambiente descontraído, no qual as pessoas acabam se conhecendo, criando vínculos e realizando bons negócios. “Desde que começamos, há três anos, obtivemos um retorno muito positivo”, diz Pierre Schürmann. “No fundo, o objetivo é gerar negócios”, diz Sergio Waib. Os frequentadores assinam em baixo. “Com uma bela comida e uma bela bebida os espíritos se desarmam”, diz Silvio Fonseca, presidente da Licx Serviços de Saúde e associado do Experience há três anos. “Além disso, encontrar outro presidente representa sempre uma nova possibilidade de contrato.”

 

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Laércio Cosentino presidente da Totvs, cozinha para seus clientes e parceiros

 

Os cerca de 90 sócios do Experience já se encontraram para voar de balão, pilotar carros esportivos, velejar e até degustar alguns dos melhores charutos do mundo. Mas é ao redor do fogão que eles se tornam mais acessíveis, abertos a novas amizades. “Esse evento gourmet é o que tem mais interação”, diz Roberto Medeiros, presidente da Redecard. Paulo Zoéga, sócio da agência de publicidade QG, concorda. “Cozinhar aproxima as pessoas. E, na hora de fazer negócios, a preferência é sempre pelas pessoas que eu conheço”, diz. Essa necessidade de interagir e descontrair deriva do cotidiano cada vez mais agitado no universo corporativo. “Por isso esse tipo de atividade está se tornando cada vez mais comum”, diz Sonia Jendiroba, vicepresidente da Associação Brasileira da Alta Gastronomia. Tão comum que a escola de gastronomia Espaço Gourmet, de Curitiba, leva todos os anos seus alunos para um estágio de duas semanas na Ecole Escoffier, uma escola de culinária no hotel Ritz, em Paris. “São quase todos executivos interessados em culinária como hobby”, diz Márcio Silva, dono do Espaço Gourmet. O que chama atenção, contudo, é que a culinária não virou apenas uma ferramenta de relacionamento. Transformou-se, de certa forma, em uma arma de sedução para conquistar clientes.

A GE Eletrodomésticos, por exemplo, criou um espaço gourmet em sua sede para organizar jantares temáticos para potenciais clientes e públicos de interesse, como arquitetos e designers. Os convidados se dividem em estações de trabalho e cada grupo prepara uma parte do jantar com um chef convidado que inspeciona tudo. “O evento começa formal, mas as pessoas interagem muito”, relata Luciana Ferreira, gerente de marca da GE. A Totvs, empresa de softwares empresariais, também mantém um espaço gourmet em sua sede. O espaço consiste em uma cozinha com ares de fazenda e utensílios de última geração. Com capacidade para 40 pessoas, a Totvs realiza cerca de dois eventos por mês. O objetivo é criar um espaço de relacionamento para se aproximar de clientes e parceiros. Nessas ocasiões, o próprio presidente da empresa, Laércio Cosentino, se oferece para preparar um banquete aos convidados. “A gastronomia em si não vai motivar uma venda, mas é uma etapa de outras tantas para se construir um relacionamento. Ela quebra a formalidade, mas o respeito continua a todo instante”, explica Laércio Cosentino.