Ele faz caramelos de azeite, farofa de foie gras, ravióli líquido e, agora, promete revolucionar o chocolate. O chef de cozinha catalão Ferran Adrià, o comandante das caçarolas do renomado El Bulli, restaurante com três estrelas no Guia Michelin, é famoso no mundo da gastronomia por criar técnicas de preparo totalmente inusitadas. Mestre da desconstrução, um movimento que faz da cozinha uma espécie de laboratório de experiências do paladar, é considerado por muitos o Picasso do fogão. Provar os seus pratos é privilégio para poucos. O El Bulli abre durante metade do ano, apenas no jantar, e a lista de espera passa dos quatro anos. Mas, em setembro, os simples mortais poderão encontrar algumas de suas criações nas prateleiras. Adrià foi contratado pela Nestlé para desenvolver receitas de chocolate para a Cailler, uma marca premium da companhia. Os produtos, que serão vendidos somente na Suíça, têm o objetivo de rejuvenescer a marca. Este não é o primeiro movimento da empresa nesse sentido.

No início de 2006, a Nestlé organizou um concurso com vários arquitetos e designers do mundo para criar uma nova embalagem para o chocolate Cailler. O vencedor foi o premiadíssimo francês Jean Nouvel, uma unanimidade no mundo da arquitetura. Sua criação, entretanto, não foi recebida com tanta alegria pelo público consumidor. Com uma embalagem que leva plástico, a empresa suíça se viu obrigada a aumentar o preço do produto em 8%. As vendas, então, caíram. Primeiro porque os consumidores suíços são mais comedidos no momento da compra. Segundo porque a embalagem não era ecologicamente correta ? com um material não reciclável. Em meio a tantos problemas de gestão, a esperança recai sobre os ombros de Adrià, eleito uma das 100 personalidades mais influentes do século 21 pela revista Time. O chef catalão poderá criar em seu pequeno ?laboratório gastronômico? uma fórmula que conquiste o consumidor pelo paladar e não pelo visual. Assim, mostrará aos entendidos de marketing que chocolate não se come pelos olhos.