24/03/2015 - 18:00
O empreendedor americano Nirav Tolia tem um passado para lá de controverso. Ele já foi pego mentindo no currículo – o que é grave: um CEO do Yahoo já perdeu o emprego por isso. Foi acusado ainda de realizar transações suspeitas na bolsa na época em que esteve à frente da Shopping.com, no começo da década passada. Também fugiu do local de um acidente de trânsito em que se envolveu. Pois esse polêmico empresário agora quer o seu endereço, se você tiver coragem de fornecer. Tolia é dono da rede social Nextdoor, que une digitalmente residentes de uma mesma comunidade para discutir problemas comuns, como problemas de segurança.
Atualmente, ela está presente em 35% dos bairros dos EUA. A Nextdoor está por trás de um novo fenômeno do mundo da internet. Depois das redes sociais genéricas, como o caso do Facebook, chegou a vez das que privilegiam a geolocalização. Os investidores de capital de risco estão apostando nessa tendência. A quarta e mais recente rodada de investimento obtida pela Nextdoor, de US$ 110 milhões e liderada pelos fundos Redpoint e Insight Partners, avaliou a empresa em mais de US$ 1,1 bilhão.
Nas três rodadas anteriores, o aporte total foi de US$ 100 milhões. “A geolocalização é uma tendência e os grandes players estão de olho nesse segmento”, afirma Alexandre Marquesi, professor de marketing digital da ESPM. “As pequenas têm a vantagem de ter saído na frente e isso é crucial”. Fundada em 2010, a Nextdoor é o mais claro exemplo dessa nova onda de redes sociais baseadas na geolocalização, interessadas em promover interações nos locais em que o usuário passa mais tempo, como sua casa, trabalho ou lugar de estudo.
Os antecessores, como Foursquare, Swarm e o brasileiro Kekanto, focavam em resenhas e interações com locais visitados ocasionalmente, como restaurantes, parques e livrarias. A proposta da Nextdoor é promover uma interação constante entre vizinhos. A empresa, no entanto, vive o eterno dilema das startups em começo de carreira: como fazer dinheiro sem perder a base de usuários. A aposta é na publicidade geolocalizada. “É uma coisa que pensamos muito”, disse Sarah Leary, vice-presidente de marketing da Nextdoor ao site americano Upstart.
“Podemos dar a provedores de serviço uma forma de se comunicar com uma região.” As novas redes sociais geolocalizadas querem também tomar de assalto as universidades. Pelo menos, é esse público – o mesmo que deu o arranque ao Facebook no início, diga-se – da americana Yik Yak. O aplicativo é similar ao Secret, em que as pessoas podiam fazer postagens de forma anônima. O Yik Yak, porém, só mostra inconfidências de pessoas próximas. É como se as pichações dos banheiros de colégio ganhassem o mundo. Os criadores Tyler Droll e Brooks Buffington, de 24 anos, tiveram de lidar com acusações de bullying, misoginia e todo aquele lodaçal que pode ser visto nas caixas de comentários da internet.
No festival SXSW, encontro de tecnologia, música e cinema anual no Texas, a dupla se defendeu dizendo colaborar com as autoridades em casos que envolvam riscos a terceiros. “Sempre dissemos ser primeiro localização, depois anonimato”, afirma Buffington. O Yik Yak baniu todos os colégios americanos, mas manteve as cerca de 1.600 faculdades. Em dezembro, a Sequoia, a mesma que aportou no WhatsApp, investiu US$ 62 milhões na empresa, avaliada em US$ 400 milhões. Além de fofocas estudantis, a geolocalizção pode ganhar um toque de economia compartilhada.
O site brasileiro Tem Açúcar?, lançado no final do ano passado, une as pessoas de um determinado para o empréstimo de objetos pouco usados, como aquela furadeira que só vê a luz do dia duas vezes por ano. O site foi desenvolvido pela ex-modelo e estudante de publicidade Camila Carvalho com R$ 15 mil. “O potencial é enorme, já vemos usos diversos da ferramenta, como pedidos de ajuda para fazer uma horta em casa, por exemplo”, diz Camila. Em alguns meses, o Tem Açúcar? retirará a limitação das buscas somente por bairros, possibilitando fazer pedidos a até uma determinada distância.