O estilista inglês John Galliano, nascido na colônia britânica de Gibraltar, é tão famoso pelas suas criações no mundo da moda quanto por declarações politicamente incorretas, eivadas de chauvinismo, racismo e mau gosto. No comando da equipe criativa da grife de luxo francesa Christian Dior, entre 1996 e 2011, ele ganhou os holofotes da mídia internacional ao pendurar modelos renomadas em trapézios na passarela, promover desfiles de alta-costura em estações de trem, como a Gare Saint Lazare, em Paris, e colocar manequins na passarela usando máscaras de deuses egípcios, como Horus, Anubis e Bast.

Mas nada disso está no topo de seu currículo. O estilista, hoje com 54 anos, ficou ainda mais famoso, há quatro anos, ao ser flagrado – visivelmente alcoolizado – proferindo declarações antissemitas em um bar parisiense. “Amo Hitler”, disse a uma mulher judia em março de 2011. Na semana seguinte ao vazamento do vexame, ele foi demitido da Dior e, logo depois, entrou em uma clínica de reabilitação no Arizona, nos Estados Unidos. Os anos obscuros de Galliano, no entanto, parecem ter ficado para trás.

Na segunda-feira 12, ele pisou nas passarelas novamente, em uma tentativa de resgatar parte de seu prestígio antes de ser banido da cena de moda parisiense. Galliano foi o responsável pelo desfile, em Londres, da linha artesanal da maison Martin Margiela. No entanto, a grife belga, embora considerada vanguardista, está longe de gozar do mesmo prestígio da Dior, cujas receitas foram próximas a € 31 bilhões no ano passado, provenientes da venda de vinhos, cosméticos, joias, relógios e, claro, de vestimentas prêt-à-porter ou de alta-costura.

Durante o evento, o estilista reafirmou ter abandonado o álcool e apresentou inúmeras desculpas, garantindo não ser racista ou antissemita. Galliano, como esperado, causou boas impressões. “Foi tudo muito bem-feito, nos lembrando o quão talentoso ele é”, disse Natalie Massenet, presidente do Conselho Britânico de Moda. Polêmicas à parte, é inegável que Galliano reinventou a imagem deteriorada que a Dior apresentava na década de 1990, sob o comando do estilista italiano Gianfranco Ferrè. “A marca estava antiquada”, diz Dhora Costa, professora de design especializada pela Ecole Supérieure de la Mode de Paris.

“Se não fosse pela ousadia e pela criatividade de Galliano, a Dior estaria morta, juntamente com os seus antigos clientes.” Durante os 15 anos em que trabalhou na Dior, a empresa viu seu faturamento se multiplicar por cinco. A companhia saltou de uma receita de € 5 bilhões, em 1996, para € 25 bilhões em 2011. De acordo com a especialista Dhora, é possível que Galliano ajude a Martin Margiela, pertencente ao grupo Only the Brave, (dono de marcas como Diesel e Viktor & Rolf), que faturou € 1,6 bilhão em 2013, a crescer tanto quanto a Dior nos últimos anos – seja em prestígio, seja em receitas. “Ele é um gênio da moda”, diz.