A Saint-Gobain passou três séculos se dedicando exclusivamente à Indústria, com a produção de vidros, cerâmicas, abrasivos e plásticos. E levou apenas oito anos para mudar sua história, fazendo do varejo a principal atividade do grupo. Desde que decidiu comprar um batalhão de lojas de materiais de construção, a partir de 1996, o grupo francês não parou de colecionar recordes de venda no setor. Hoje, a divisão conta com 2,8 mil pontos-de-venda espalhados pela Europa, EUA e Brasil, 52 mil funcionários, faturamento de 11 bilhões de euros ? mais de um terço do faturamento do grupo. ?As oito bandeiras que a Saint Gobain controla na Europa representam, em média, 30% das receitas da corporação em seus respectivos países. É um fenômeno?, afirma Fernando de Castro, diretor geral da Telhanorte, a representante brasileira e a mais nova coligada da Saint-Gobain nessa constelação de lojas de materiais de construção. ?É esse mesmo patamar que pretendemos alcançar também no Brasil?. Hoje, a Telhanorte responde por 10% dos R$ 4 bilhões que o grupo fatura por aqui. O Brasil ainda é um dos poucos mercados onde a divisão de varejo da Saint Gobain não suplantou a Indústria. Mas a história pode mudar. Com a chegada de Jean-Pierre Floris, novo presidente da Saint-Gobain do Brasil, a ordem é acelerar o crescimento da Telhanorte, importar o conceito de lojas segmentadas, entrar no comércio eletrônico de materiais de construção e alinhar a filial à estratégia global da companhia.

Para começar, o ritmo de abertura de lojas ? até aqui de três a quatro por ano desde 2001? deverá ser ampliado, embora ninguém na empresa fale em números. ?Não nos fixamos em metas, mas em oportunidades. Elas virão e vamos aproveitá-las?, discursa Castro. Na semana passada, a Telhanorte inaugurou sua décima nona loja, em Sorocaba, ao custo de R$ 15 milhões. No mês que vem, abrirá a segunda unidade da Telhanorte Pro, voltada aos profissionais da construção. É a tal segmentação proposta pelo grupo. A loja oferece ferramentas e materiais especiais para quem trabalha com reformas e até mesmo com grandes obras urbanas. Há ainda consultores técnicos que auxiliam os profissionais e o clube de milhagem, onde o usuário acumula pontos para sua próxima aquisição.

A ordem, daqui para frente, é apostar na criatividade. Na Europa, a Saint-Gobain tem pelo menos uma dezena de lojas que cairiam como uma luva no Brasil. A francesa Lapeyre, por exemplo, é especialista em materiais de acabamento. A KparK, outra bandeira do grupo, é líder em esquadrias. Já a Plateforme du Bâtiment recriou o conceito das pequenas lojas artesanais em grandes centros urbanos, com materiais profissionais e preços imbatíveis. Foi a inspiração da Telhanorte Pro. ?No Brasil, também já transformamos uma unidade em São Paulo em referência para arquitetos, inclusive com consultoria técnica para projetos?, revela Castro. De acordo com o executivo, nada impede que no futuro a Telhanorte tenha uma loja, por exemplo, voltada só para pintura e outra para artigos de decoração. Além de inventar novos modelos, a rede também prepara a criação de um site para o comércio eletrônico de material de construção. A reforma da Saint Gobain no Brasil está apenas começando.

R$ 400 milhões é quanto a Telhanorte, dirigida por Castro, fatura anualmente