29/10/2003 - 8:00
Na era Jeffrey Immelt, o sucessor de Jack Welch na GE, imaginar é preciso. O profissional burocrático não tem mais voz dentro da companhia. Ter tempo para pensar e descansar, anotar idéias em pedacinhos de papel, ouvir música e ter senso de humor durante o expediente são algumas das novas regras da casa. Immelt quer estimular a criatividade e resgatar o legado de Thomas Edison, o fundador da GE e um dos maiores inventores de todos os tempos.
Daqui para frente, a empresa vai direcionar o seu negócio para a produção de tecnologia de ponta e prestação de serviços sofisticados. ?Estamos vivendo o inferno das commodities. Por isso é preciso inventar, ser diferente e construir a empresa para o futuro?, diz Immelt. O novo mundo da GE agora sai dos laboratórios de pesquisa, que neste ano ganharam investimentos de US$ 212 milhões, dinheiro que será usado na modernização das suas instalações (o que não foi feito nos últimos vinte anos). É lá que ela está descobrindo como ganhar dinheiro com coisas como engenharia genética e fontes alternativas de energia. ?Nessas áreas, as margens de lucro e as barreiras à entrada de concorrentes são bem maiores?, diz Alexandre Silva, presidente da GE na América do Sul. Essa é a fórmula que a gigante de US$ 132 bilhões encontrou para crescer.
A prova mais recente dos novos rumos da GE foi a aquisição, neste mês, da inglesa Amersham, empresa de pesquisa genética e fabricante de químicos usados em 90% dos medicamentos biotecnológicos. Segundo analistas americanos, esse novo negócio coloca a GE na vanguarda do século 21. Foi uma compra estratégica. Ela disputou com Johnson & Johnson e Roche e jogou alto ? US$ 9,5 bilhões ? para levar o ?futuro? para casa. Com a aquisição, a área médica da companhia (que hoje fabrica equipamentos de raio X, ultra-sonografia e ressonância magnética) vai faturar US$ 13 bilhões em 2003.
Poucas empresas no mundo têm uma receita igual a essa.
No Brasil, esse é um negócio de US$ 150 milhões, e que ainda
tem muito espaço para crescer.
Até o final deste ano, a GE deve oferecer um serviço revolucionário aos hospitais e laboratórios nacionais. Vai digitalizar as informações de um paciente e depois distribuir para os hospitais. Dessa forma, o médico tem como acessar todo o histórico de um paciente em questão de segundos antes de atender a uma emergência. Da genética, Immelt salta para o entretenimento, outra de suas grandes apostas. Ele acaba de fechar um acordo de US$ 3,8 bilhões para criar a NBC Universal. A GE terá 80% da nova companhia e os 20% restantes ficam com o grupo francês Vivendi. Com o lance, Immelt leva para a GE cinco parques temáticos, dezenas de canais de tevê ? sem contar a rede NBC, que já era da casa ? e um megaestúdio de cinema. Estima-se um faturamento de US$ 13 bilhões para 2003, o que coloca a NBC Universal em condições de disputar posição com gigantes como Disney e AOL-Time Warner.
A nova postura de buscar alternativas de crescimento e construir o futuro da empresa também é papel das subsidiárias. O Brasil, por exemplo, tem feito grandes esforços na prestação de serviços e nas áreas aviação, petróleo e energia. Atualmente, cerca de 70% das turbinas eólicas fabricadas no mundo pela GE saem daqui. Metade da produção vai para Europa e EUA, mas, no futuro, o objetivo é pegar carona nos ventos nacionais.
A revisão dos motores de todos os aviões da Varig, Fedex e Southwest Airlines também é feita no País. Mas foi o recente ?casamento? com a Embraer que turbinou o setor de aviação. Isso porque a GE virou fornecedora exclusiva de motores para os modelos de aeronaves 170, 190 e 195. Só neste ano a Embraer já recebeu encomenda para fabricação de 1.106 jatos. Além disso, a empresa americana fez leasing de 85 aviões para a fabricante brasileira. É praticamente uma sociedade. ?Nós acreditamos nos jatos da Embraer. É uma parceria longa, que deve durar no mínimo uns 30 anos?, diz Silva. Isso é que é pensar no futuro.