Patriota confiante: “O PT, com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, destruiu o Brasil.”
Eleitor inconformado:  “Só que presidente Jair Bolsonaro é um genocida; meio milhão de brasileiros morreram até agora por causa de sua estupidez e negacionismo.”

Patriota confiante: “Mas o Lula é ladrão, mentiroso e cínico. Saqueou as estatais, quebrou o governo e comprou a mídia para se perpetuar no poder.”
Eleitor inconformado: “O presidente atual faz o mesmo. Utiliza verbas de publicidade pública para comprar veículos de comunicação e tentar estrangular a liberdade de imprensa. Alinhou-se aos popularescos SBT, Record, Jovem Pan e afins para seduzir evangélicos, aposentados e vulneráveis que imploram por auxílio.”

Patriota confiante: “Se Bolsonaro mata, é tentando acertar. Nunca fechou uma porta de comércio sequer. É uma vítima da politicagem. Ele é cristão, honesto, defende a família e prescreve tratamento precoce. Os governadores, os togados do STF e os carniceiros do Congresso atrapalham o presidente…”

A transcrição de um rotineiro, republicano e pouco sensato debate no WhatsApp – replicado aos milhões, com personagens distintos, em grupos virtuais Brasil adentro – expõe, com clareza, o atoleiro político, moral, ético e civilizatório em que o País se meteu nas últimas eleições. A soberba e a dissonância com a realidade da corrupção sistêmica observadas nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma empurraram o País a eleger um falso messias. O mesmo, até que se prove o contrário, agora leva a nação de volta a Lula, como em um pêndulo interminável de esquerda-direita-esquerda-direita. Um fenômeno, no jargão popular, que descreve um cachorro que corre atrás do próprio rabo.

No sábado, 19 de junho de 2021, dia em que o País superava a vergonhosa marca de 500 mil mortes, a resiliência do extremismo político dita o ritmo dos embates entre vermelhos, verde-amarelos, multicoloridos ou desbotados nas redes sociais.  Uma guerra civil ainda não declarada. Milhares de brasileiros que ainda não entraram para as estatísticas agonizam, neste exato momento, por não terem sido imunizados quando podiam.

Na economia, parte dos que estão de portas fechadas condena a decisão de prefeitos e de governadores. Aos que já reabriram, choram a falta dos consumidores – ou por aqueles que já morreram ou pelos que sumiram simplesmente pela falta de disposição de correr o risco.

O Brasil, que vive hoje o pior dos mundos às portas da corrida eleitoral de 2022, resgata a essência de antigas teorias para definir seu futuro. A primeira, conhecida como o Princípio da Relatividade, inserida na ciência moderna por Galileu Galilei, determinou que qualquer movimento só tem algum significado quando comparado com outro ponto de referência. Segundo, a da redução de danos, que prega a defesa da mitigação dos prejuízos relacionados a práticas que causem estragos – o velho conhecido “menos pior”. E, por fim, a economia. Ah, para a economia não há teorias que não sejam a imunização em massa e a retomada da vida normal. Seja qual for seu lado ou argumento, segure firme. As eleições estão a caminho.

* Hugo Cilo é colunista e editor de Negócios da revista IstoÉ Dinheiro