23/02/2001 - 7:00
Ele ganha dinheiro, muito dinheiro, com um assunto que provoca calafrios na maioria das pessoas: a morte. Dono do famoso cemitério vertical de Santos, do primeiro crematório privado do País e de um luxuoso crematório de animais de estimação, o argentino José Salomon Altstut é um dos grandes empresários do setor funerário, acumulando um faturamento anual de R$ 19,2 milhões. Sua companhia, a Memorial Necrópole Ecumênica, realiza mais de três velórios por dia, a um custo médio de R$ 8.500 a cerimônia completa. Aos 63 anos, sendo mais da metade vivido no Brasil, Pepe Altstut, como é conhecido, acaba de lançar mais um negócio promissor: um portal funerário. Investiu R$ 6 milhões e vai oferecer serviços para as famílias dos mortos e comércio eletrônico entre empresas do setor. A abrangência e o ineditismo do portal Vida Perpétua ? que inclui a transmissão ao vivo de velórios pela Internet ? lhe rendeu grandes reportagens em agências internacionais de notícias. A repercussão acelerou os planos de expansão para o exterior e em breve ele estará fincando o pé na Espanha, Portugal, Itália, Venezuela e Argentina. ?O negócio está indo melhor do que o previsto?, afirma o empresário. ?Em um ano e meio imagino que terei o retorno total do investimento.?
Altstut não veio a este mundo para brincar. O cemitério vertical, sua primeira empreitada num setor que movimenta R$ 1 bilhão, também fez bastante barulho quando foi lançado, há 18 anos. Entrou para o livro Guinness dos Recordes como o mais alto do mundo, com seus 14 andares e capacidade para dez mil pessoas. Hoje, o cemitério, que ele prefere chamar de Memorial, transformou-se em um complexo de quatro prédios. O quinto, de 15 andares, ficará pronto em 15 meses e aumentará a capacidade total para 50 mil vagas. Para cada uma delas, cobra-se uma taxa mensal de manutenção de R$ 23. Mas ao contrário do que se poderia imaginar, o Memorial fica em um lugar aprazível, cercado de verde, viveiros e laguinhos com carpas. Tanto é agradável que o empresário, que possui, entre outros negócios, uma construtora e hotéis em Parati e Ubatuba, escolheu o local para instalar o seu próprio escritório. ?Estamos tentando mudar a imagem?, diz ele. ?Esse ramo mexe com muita tristeza e tentamos tornar a morte menos traumática.? Altstut também procura se associar a eventos relacionados com a ?vida?, patrocinando 150 esportistas.
Assim como o Memorial, o portal Vida Perpétua tenta explorar a morte do ponto de vista da vida, criando um ambiente agradável para quem fica. Além de explicações sobre tudo o que se precisa saber antes de enterrar um parente ? da compra do caixão às flores ?, o portal permite às famílias criar ambientes de convívio virtual, onde é possível trocar informações sobre os que se foram, deixar recados, fotos e montar árvores genealógicas. O serviço não é barato: R$ 200 de inscrição e mais uma taxa mensal de R$ 12 por família. Mas o preço não parece um empecilho. A menos de um mês no ar, o site conta com 200 cadastrados e uma média de 1,5 mil visitas por dia. Para aqueles que temem pela efemeridade da Internet, onde é freqüente acontecer de empresas quebrarem e simplesmente desaparecem no ar, o portal é fiel ao nome e vem com garantia eterna. ?O portal veio para ficar?, diz ele. ?Tenho um filho jovem e ele tem a responsabilidade de perpetuar o negócio.?
O empresário entrou no ramo funerário depois de acompanhar o calvário de um amigo que havia perdido o pai e teve enormes dificuldades de achar vagas em cemitérios públicos. Num país que contabiliza 1,3 milhão de mortes por ano, o setor funerário é até agora pequeno e mal explorado. Mas as coisas, aos poucos, estão mudando e até mesmo os estrangeiros passaram a se interessar pelo negócio. Em setembro, o grupo português Exponor realiza o primeiro Salão Internacional de Arte Funerária, em São Paulo.