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Poucas mudanças: do primeiro modelo, em 1984, ao design atual (acima), o carro passou por pequenas alterações. Hoje ainda está entre os mais vendidos

 

Em agosto de 1984, um ousado carrinho compacto trouxe euforia ao mercado automotivo brasileiro. Era o Fiat Uno. No início, muitos afirmavam que aquele italianinho, de mecânica simples e design ousado para os padrões da época, não emplacaria no País. “É italiano demais”, resumiu uma importante publicação especializada no setor, sem muitos argumentos técnicos.

Outros juravam que a “botinha” – como foi chamado – seria a precursora da modernização dos automóveis nacionais. Mas quem apostou no fracasso do Uno perdeu feio. Há 25 anos, mesmo com design quadrado, de linhas retas, o carro é um fenômeno de mercado, apesar de disputar consumidores com modelos de traços arrojados e muita tecnologia. No ano passado, no melhor resultado da história, as vendas no Brasil chegaram a 142 mil unidades, acima das 128,5 mil de 2007. Não por acaso ele é hoje o responsável por fazer da Fiat a líder em vendas e o terceiro modelo no ranking, atrás do Volkswagen Gol e do Fiat Palio.

 

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2,6 milhões de unidades do Uno foram vendidas no País desde 1984, 26% do total da Fiat

 

Mas se o Uno é o terceiro, o que faz dele um fenômeno? Desde que trouxe o modelo para o Brasil, a Fiat faz questão de manter o mesmo visual e as mesmas características mecânicas. Enquanto isso, seus concorrentes passaram por profundas reestilizações, mudanças de modelos e troca de motorização. “É provável que essa estratégia, de não mudar totalmente o carro, seja a grande sacada do Uno. Por preservar o conceito inicial, quem tem um Uno nunca está com o veículo visualmente ultrapassado”, justificou o jornalista Nivaldo Nottoli, autor do livro Uno – A História de um Sucesso. “Não existe case semelhante no mundo.

Ele é o marketing mais eficiente da Fiat.” Do ponto de vista de mercado, o Uno é definitivamente um caso a ser estudado. À primeira vista, não existem razões lógicas que sustentem tamanho sucesso. Lado a lado com os rivais, ele é defasado em termos estruturais e carente em tecnologia. No entanto, o preço mais baixo do mercado aparentemente tem sido a peça-chave da prosperidade do Uno: R$ 23 mil. “Para quem compra mais com a razão do que com o coração, o Uno é um carro apropriado”, definiu Jaime Nogueira, consultor especializado em mercado automotivo.

Por isso, o Uno faz sucesso entre os frotistas. Mas engana-se quem pensa que Uno é “carro de firma”. Segundo o último levantamento da Fenabrave, a associação que representa as concessionárias, mais da metade dos Fiat Uno emplacados em maio foram para pessoas físicas (quase 52%).

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A resistência do Uno – que na Europa já está aposentado desde 1995 – será colocada em prova nos próximos anos. A nova legislação brasileira, que exigirá equipamentos de segurança de série nos automóveis (como airbags e freios ABS) até 2014, obrigará a Fiat a rever a estratégia de simplicidade do Uno.

Nos bastidores, comenta-se que ele será totalmente reformulado em breve, mas a Fiat nega mudanças. E com razão. O Uno representa para a Fiat no Brasil o que o Fusca foi para a Volkswagen nos anos 60 e 70. Os números provam isso. Da impressionante marca de 10 milhões de carros produzidos pela Fiat no País, 2,6 milhões foram Uno. Por isso, qualquer manobra mal pensada pode colocar em risco esse status.

“O Uno é uma ‘vaca leiteira’ para a Fiat. Tem grande volume de venda e saída fantástica”, comparou o diretor de Estratégia e Planejamento de Produto da Fiat, Carlos Eugênio Fonseca Dutra. “Quando foi lançado, o Uno era revolucionário, conceitualmente diferente de tudo o que existia”, completa. Hoje, passados 25 anos, pela performance de vendas, continua sendo.