Até parece um milagre. Depois de cinco anos consecutivos de queda nas vendas, uma crise avassaladora que quase a levou a bancarrota, em 2008, na esteira do colapso financeiro global, a indústria automobilística americana está renascendo. 

 

No ano passado, os fabricantes registraram um crescimento de 11% , com 11,6 milhões de carros comercializados. Ainda é pouco, se lembrarmos que o mercado já chegou a 18 milhões de veículos comercializados. Mas já é um alento e tanto. 

 

74.jpg

Sem barulho: pela primeira vez em dois anos, funcionários das 
montadoras não protestaram por melhores condições de trabalho

 

O novo cenário permeou o Salão do Automóvel de Detroit, nos Estados Unidos, um dos mais importantes do mundo e o termômetro usado nos últimos anos para mediar a saúde das montadoras locais, que souberam utilizar o providencial auxílio do governo do presidente Barack Obama (com benefícios diretos e indiretos) para sua ressureição. 

 

Do lado de fora, desapareceram os protestos de funcionários das três grandes – Ford, GM e Chrysler  – por melhores condições de trabalho, vistos nas duas edições anteriores do Salão. 

 

No interior do pavilhão, a ostentação da década passada foi substituída por uma corrida para retomar o tempo perdido. “Acreditamos totalmente na recuperação de Detroit”, afirmou Olivier François, presidente mundial da Chrysler, que deve voltar ao lucro neste ano. 

 

Depois de se desfazer de marcas pouco lucrativas, fechar fábricas e enxugar os custos, as três grandes montadoras americanas voltaram a crescer. Ford e Chrysler aumentaram as vendas 17% em 2010. A GM, 10%. 

 

75.jpg

  

Esse desempenho derrubou a Toyota, líder mundial na venda de carros, para a terceira posição no mercado americano. Detroit também foi o palco para anúncios de investimentos e contratações. O presidente e CEO da Ford, Alan Mulally, comunicou a abertura de 3 mil postos de trabalho em 2011. 

 

A General Motors vai gerar mil novos empregos em sua fábrica de Orion, Michigan, que consumiu investimentos de US$ 545 milhões. É nela que vai ser produzido o compacto Sonic, um projeto de carro de baixo custo de origem coreana. 

 

Essa é outra mudança visível da indústria americana. No lugar de carros esportivos e grandalhões, esbanjadores de combustível, as principais marcas apresentaram modelos compactos e movidos à eletricidade. 

 

Ford e GM, inclusive, chegaram a trocar farpas durante o evento para ganhar o título de montadora verde. A GM apostou suas fichas no elétrico Volt. A Ford mostrou uma linha de produtos com energias alternativas. “Cada mercado terá sua solução no futuro. Por isso, não iremos em uma direção única”, disse à DINHEIRO Marcos de Oliveira, presidente da Ford no Mercosul. “Vamos dar opções ao consumidor.” 

 

Bafejada pelos ventos da recuperação da antiga Meca do setor automobilístico, até a própria Detroit, famosa por sua paisagem cinzenta e casas abandonadas, começa a renascer. No bairro de Grosse Pointe, a oeste da cidade, casas de alto padrão estão sendo erguidas, um indício de que a região começa a atrair novos investimentos e um novo tipo de morador.