18/10/2013 - 5:30
Poucas ideias foram tão importantes para a popularização do celular no Brasil quanto a criação dos planos pré-pagos. Em 1998, época da privatização da Telebras, havia 7,3 milhões de aparelhos no mercado brasileiro. Em agosto deste ano, a base de assinantes chegou a 268,4 milhões, o que dá mais de um celular por habitante. Quase 80% desse universo é formado por pessoas que optaram pelo pré-pago, chamado popularmente de celular ?pai de santo?, aquele que só recebe chamadas. Depois de ter atingido seu ápice em 2009, quando chegou a representar 83% dos usuários, esse modelo dá sinais de que está começando a se esgotar.
Tanto que, neste ano, apenas 1,4 milhão de novos assinantes desse modelo foram acrescentados à base das empresas de telefonia, um avanço de 0,3% até o início do segundo semestre. Não se trata, no entanto, de um sinal de que o mercado brasileiro de celulares esteja estagnado. Quem passou a liderar seu crescimento foram os planos pós-pagos. Neste ano, o número de novos assinantes avançou 10,3%, alcançando 56,2 milhões de clientes. Ainda é pouco, muito pouco, no universo de assinantes. Mas o fato é que as linhas pós-pagas ganharam mais de dois pontos percentuais nos últimos 12 meses ? cada ponto percentual equivale a 2,7 milhões de celulares.
O que explica essa mudança de comportamento? Em primeiro lugar, o mercado brasileiro está chegando a um nível de saturação, com uma densidade de 133 celulares para cada 100 habitantes. Em 2012, por exemplo, a taxa de crescimento foi de apenas um dígito (8,1%) ? em anos anteriores, ela era sempre superior a 15%. Assim, a estratégia das operadoras foi estimular o consumidor a migrar de planos pré-pagos para os pós. Elas criaram planos batizados de ?controle?, para tentar convencer os clientes de que os pós-pagos não são sinônimos de conta cara. Por um valor fixo, os usuários passam a ter direito a pacote mensal de minutos.
Conseguimos um forte avanço?, afirma Christian Gebara, diretor-executivo da Vivo, a líder da área de pós-pagos, com uma participação de 38% nesse mercado. As empresas do setor sabem, no entanto, que é preciso ter cuidado na hora de trazer clientes do pré-pago. O exemplo da Oi é ilustrativo das dificuldades que podem existir. No ano passado, a companhia voltou a subsidiar a compra de celulares e apostou pesado no crescimento de sua base de assinantes de pós-pagos. Sua participação de mercado nessa área passou de 12,6%, no ano passado, para quase 15%, em agosto de 2013. ?Trouxemos muitos usuários que não podiam pagar pelo plano?, diz Roberto Guenzburger, diretor de mobilidade varejo da Oi.
?Acabamos com um grande número de inadimplentes.? A solução para resolver esse problema foi criar a opção de débito automático em cartão de crédito, uma forma de evitar calote, a exemplo do que faz a TIM. Apesar das diferentes táticas para conquistar terreno, um ponto será crucial. ?No fim das contas, vai conquistar mais clientes aquela empresa que oferecer a melhor conexão de internet?, afirma Renato Pasquini, gerente de telecomunicações da consultoria americana Frost & Sullivan. Todas as operadoras já começaram a prestar seu serviço de 4G, ao menos nas cidades-sede da Copa das Confederações.
A Oi aposta em pontos de conexão Wi-Fi espalhados pelas principais localidades em que atua como seu diferencial. Vivo e TIM contam com uma ampla rede de antenas. ?As empresas devem pensar em novas formas e maneiras de oferecer o serviço de dados para celular?, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.No primeiro trimestre do ano, apenas um terço dos smartphones vendidos nos Estados Unidos eram pré-pagos, segundo números da consultoria NPD Group. O Brasil está longe dessa realidade ? e nem deve atingi-la no longo prazo. Mesmo assim, vale a pena brigar para conquistar clientes pós-pagos. Apesar de o valor pago por um cliente pré-pago ser semelhante, a relação dele com a empresa de telefonia é diferente. ?O cliente pós-pago é mais fiel?, diz Gebara, da Vivo. ?É quase um vínculo permanente.?
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