A Casa Rhodia está à venda. A mansão cinqüentenária localizada na Avenida Brasil, no coração dos Jardins, em São Paulo, foi durante anos um badalado centro de eventos da empresa francesa. Foi também um ícone dos tempos de glamour e pujança, quando a companhia ditava as tendências da moda brasileira e aparecia como o maior investimento francês no País. A força simbólica do casarão sempre foi tão grande que até mesmo sua venda, por um valor estimado entre R$ 12 e 13 milhões, transformou-se em um sinal dos tempos vividos pela Rhodia no mundo. Depois de quase ir à bancarrota no fim de 2003, a empresa trocou o comando, renegociou sua dívida, vendeu operações e, agora, inicia um duro processo de corte de custos ? e nesse
capítulo está incluída a venda da Casa Rhodia. A Rhodia encolheu no mundo,
mas para a subsidiária brasileira isso não foi tão ruim. Sua participação nos ne-
gócios do grupo cresceu de 8% para 10%. O prestígio da filial até permitiu o que
hoje é considerado uma extravagância, um investimento de US$ 10 milhões
no aumento da produção de fenol, insumo para o náilon e derivados de ma-
deira. O projeto foi inaugurado na semana passada com a presença do
chefão mundial, o francês Jean-Pierre Clamadieu.

Foi bom, mas poderia ser melhor ainda. O Brasil teria tudo para ser uma base de exportação do grupo, mas os gargalos de sempre (estradas ruins, portos ineficientes, tributos em excesso) fizeram com que a Rhodia brasileira perdesse esse posto para o adversário de sempre, a China. ?Nossa empresa é eficiente da porta para dentro, mas quando dependemos da infra-estrutura perdemos a competitividade?, disse Clamadieu à DINHEIRO, em um português fluente, herança dos tempos em que comandou uma divisão da Rhodia Brasil entre 1996 e 1999. Anos depois, em outubro de 2003, foi convocado para assumir a presidência mundial do grupo e tentar salvá-lo de um naufrágio que parecia inevitável. Um processo de expansão acelerada havia sufocado a empresa em uma dívida de três bilhões de euros, equivalente a sete vezes a geração de caixa. Clamadieu traçou um plano de saneamento rigoroso.

 

O primeiro passo foi renegociar a dívida. Com uma emissão de bônus, a Rhodia alongou o prazo de paga-
mento para seis anos e arrecadou 470 milhões de euros. Pagou caro por isso. Os juros oferecidos aos compradores dos papéis atingiram 11%. Depois tratou de se livrar de alguns ativos. Negociou a divisão de ingredientes para alimentos com a dinamarquesa Danisco. A atividade de fosfatos também foi passada adiante. O plano era arre-
matar 700 milhões de euros, mas amealhou 880 milhões de euros. A receita caiu de 5,6 bilhões de euros para 5 bilhões. O Brasil passou incólume pela dieta forçada, pois não tinha fábricas desses produtos e manteve seu faturamento na casa dos 500 milhões de euros. A filial também sofrerá menos quando Clamadieu iniciar a terceira etapa do plano de recuperação, o corte de custos. Cerca de 1,5 mil empregos serão sacrificados pelo mundo, o que gerará uma economia de 300 milhões de euros até 2006. Nesse departamento, o Brasil já fez a lição de casa. Aqui, cerca de 30 dos três mil postos de trabalho foram eliminados. ?Todos no nível gerencial?, diz Walter Cirillo, presidente da empresa para a América Latina.