04/07/2007 - 7:00
“A BRA nasceu com a filosofia de popularizar o transporte, e com qualidade superior à da concorrência” HUMBERTO FOLEGATTI, presidente da BRA
Os últimos meses mostraram que o setor aéreo no Brasil pode trazer muita dor de cabeça aos passageiros, inspirar pérolas infelizes em autoridades e expor da pior maneira as fragilidades do sistema de tráfego. Isso é ruim? Com certeza. Mas uma coisa ninguém pode negar: nossa aviação jamais cai na monotonia. Entra dia, sai dia, sempre aparece uma notícia que sacode o País. Pois chegou a vez de a BRA Transportes Aéreos dar o ar da graça. A empresa, dona de 4% do mercado, anunciou na quartafeira 20 a encomenda firme de 20 jatos brasileiros Embraer 195, com opção para mais 20 e previsão no contrato para outros 35 em data a definir. Ou seja, 75 aviões, de uma tacada só, para uma companhia que hoje opera apenas 12 aeronaves. O valor do negócio supera os US$ 2,7 bilhões (US$ 36,5 milhões por unidade, fora outros 10% em opcionais). Diante da dimensão dos planos, imediatamente uma pergunta ficou suspensa no ar: afinal, qual é a rota que a BRA, uma das novatas nos céus do País, pretende seguir?
Com a palavra, Humberto Folegatti, presidente da empresa: ?Ora, TAM e Gol cresceram no mesmo ritmo ou mais rápido. A BRA nasceu com a filosofia de popularizar o transporte. Chego a dizer que com qualidade superior à da concorrência?, alfineta ele.
A megaencomenda é mais um passo na enigmática trajetória da BRA, que nasceu há oito anos como operadora de vôos charter e desligou-se dos negócios do grupo Varig num tumultuado processo que até hoje gera ruídos. Enquanto TAM e Gol têm agendas claras, custa achar um consultor de aviação que explique, de bate-pronto, a estratégia de negócios de Folegatti. Há um mês, por exemplo, o empresário firmou um inesperado acordo operacional com a também nanica OceanAir, de German Efromovich. A partir do acerto, a BRA passou a atender 1.845 cidades de pequeno e médio porte. Dinheiro também existe no caixa. Em dezembro de 2006, Folegatti recebeu R$ 180 milhões de um grupo de fundos de investimento, entre eles o Gávea, de Armínio Fraga.
Em troca, cedeu 72% do capital da BRA. Certo, mas com tantas rotas, dezenas de aviões à vista e dinheiro, aonde a empresa quer chegar? ?O Brasil é incipiente em termos de viagens aéreas?, afirma Folegatti. ?Apenas sete milhões de brasileiros têm acesso a avião. A BRA quer preencher essa lacuna.? Ou seja, a meta, segundo ele, é aproveitar mercados rejeitados pelas grandalhonas, como Rondonópolis (MT) e Joinville (SC). ?É uma guerrilha para tentar crescer?, diz o especialista em aviação Gianfranco Beting. ?A BRA sabe que não tem cacife para competir com as grandes. Pela iniciativa, merece o benefício da dúvida.?
US$ 2,7 Bilhões é o valor total das 75 aeronaves Embraer 195 encomendadas pela BRA, que serão entregues até 2012
Um ponto que intriga alguns analistas é o seguinte: como a BRA conseguirá operar essas rotas no azul, se TAM e Gol as abandonaram por serem deficitárias? Para Folegatti, a resposta está no tamanho das aeronaves e, por tabela, nos custos. Os novos jatos virão com 118 assentos em classe única ? uma vantagem sobre os Airbus A320 e Boeing 737-800, cujo tamanho leva TAM e Gol, respectivamente, a trabalhar com escalas e conexões em 90% dos vôos. ?Com a aeronave menor, você faz o mesmo trecho sem escalas. É melhor para o cliente e para a empresa, pois, quando o passageiro fica mais tempo a bordo, o custo da companhia sobe?, conta. Se a tática da BRA vai vingar, ninguém sabe. Uma coisa é certa: todo mundo gostou do fato de termos uma aérea nacional voando Embraer.